O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
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Isabel Castiajo<br />
terá optado por representá‑las <strong>de</strong> luto (v. 97), com vestes ne‑<br />
gras 18 , portanto. De luto, estariam também caracterizadas as<br />
Coéforas e, nas Euméni<strong>de</strong>s, os el<strong>em</strong>entos do coro terão surgido<br />
com a pele negra, s<strong>em</strong> que, contudo, se saiba o que trariam<br />
vestido 19 . Essa informação existe somente <strong>em</strong> relação à parte<br />
final da tragédia, altura <strong>em</strong> que é feita referência aos mantos<br />
escarlates (v. 1028) que, entretanto, terão passado a envergar<br />
e que refletiriam a mudança, entr<strong>em</strong>entes operada. Brooke<br />
(1962: 101) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que Ésquilo as <strong>de</strong>ve ter caracterizado <strong>de</strong><br />
uma forma horrífica e repulsiva, já que, na tragédia, elas são<br />
<strong>de</strong>scritas como Harpias, s<strong>em</strong> asas, negras, inteiramente repug‑<br />
nantes e com serpentes nas suas vestes (vv. 48‑56).<br />
Há, no entanto, visões muito diferentes das Fúrias nas re‑<br />
presentações dos vasos, sendo que, muitas vezes, figuram ora<br />
como divinda<strong>de</strong>s positivas ora negativas, <strong>de</strong> pele branca ou<br />
escura, ro<strong>de</strong>adas ou não <strong>de</strong> serpentes. Ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>ssas visões<br />
antagónicas é b<strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nte na comparação do krater <strong>de</strong> sino <strong>de</strong><br />
figuras vermelhas <strong>de</strong> Armento, dos inícios do séc. IV, conser‑<br />
vado no Museu do Louvre (reprod. Pickard‑Cambridge 1953:<br />
fig. 175) e <strong>de</strong> um vaso Pestense com a mesma configuração,<br />
<strong>de</strong> meados <strong>de</strong>sse século, atribuído ao Pintor <strong>de</strong> Píton e patente<br />
no British Museum (reprod. Pickard‑Cambridge 1953: fig.<br />
176). Relativamente às Bacantes, é seguro que as seguidoras <strong>de</strong><br />
Diónisos tivess<strong>em</strong> usado peles <strong>de</strong> cervo 20 e, segundo Brooke<br />
(1962: 102‑3), a sua aparição <strong>em</strong> cena terá causado tanto ou<br />
mais impacto do que a visualização das Fúrias, até porque,<br />
para além das peles, estas mulheres transportariam serpentes<br />
e heras nos cabelos e tirsos nas mãos 21 . Além disso, existiria<br />
também uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> vestimentas, porquanto<br />
entre as Bacantes estavam mulheres novas e velhas, autóctones<br />
18 Taylor (1978: 22) acredita que esta era a cor usada também para<br />
representar personagens pobres ou melancólicas.<br />
19 Esta forma <strong>de</strong> apresentar os el<strong>em</strong>entos do coro estaria <strong>em</strong> consonância<br />
com o facto <strong>de</strong> as Fúrias ser<strong>em</strong> divinda<strong>de</strong>s primitivas, provavelmente com<br />
uma caracterização claramente menos antropomórfica do que Apolo e Atena.<br />
20 Quanto a Cadmo e a Tirésias, Marshal (1999: 196) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que<br />
terão usado um vestuário báquico s<strong>em</strong>elhante, ao passo que Diónisos e<br />
Penteu estariam caracterizados com um trajo <strong>de</strong> traços f<strong>em</strong>ininos.<br />
21 Vi<strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, Bacantes, 105 sqq., 695 sqq.<br />
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