O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
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Isabel Castiajo<br />
5.1 - núMero<br />
A orig<strong>em</strong> dos atores na Antiguida<strong>de</strong> Clássica está intimamente<br />
associada às origens do próprio teatro. Segundo a tradição, terá<br />
sido Téspis o primeiro a distanciar‑se do coro e a individualizar‑<br />
‑se como ator 1 . Ésquilo terá introduzido o segundo e Sófocles<br />
o terceiro ator 2 , número que se fixou como limite e que não<br />
mais seria ultrapassado, durante a vigência do teatro na antiga<br />
Grécia 3 . Assim, é notório que a maior parte das tragédias <strong>de</strong><br />
Ésquilo foram concebidas <strong>de</strong> forma a que apenas dois atores<br />
surgiss<strong>em</strong> como intervenientes 4 , ao passo que, <strong>em</strong> Sófocles,<br />
é visível a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> três.<br />
Segundo D’Arnott (1989: 45), esta limitação do número<br />
<strong>de</strong> atores po<strong>de</strong>rá advir <strong>de</strong> várias razões: das próprias origens<br />
do drama e do facto <strong>de</strong> inicialmente o coro ter um papel pre‑<br />
pon<strong>de</strong>rante, pelo que o número <strong>de</strong> atores terá sido reduzido ao<br />
indispensável; do facto <strong>de</strong> o apogeu do teatro ter sido relativa‑<br />
mente curto para permitir gran<strong>de</strong>s inovações, já que, falecidos<br />
Sófocles e Eurípi<strong>de</strong>s, assistiu‑se essencialmente no século IV<br />
a.C. à reposição <strong>de</strong> peças dos gran<strong>de</strong>s tragediógrafos do século<br />
V a.C.; <strong>de</strong> ser um fator importante para promover a competição;<br />
do facto <strong>de</strong> os festivais acarretar<strong>em</strong> <strong>de</strong>spesas avultadas e <strong>de</strong>,<br />
assim, po<strong>de</strong>r evitar‑se, <strong>de</strong> alguma forma, uma sobrecarga <strong>de</strong><br />
custos e, acima <strong>de</strong> tudo, por uma questão estética, já que os<br />
Gregos pareciam reconhecer gran<strong>de</strong>s virtu<strong>de</strong>s dramáticas na<br />
economia e, por essa razão, ainda que tendo disponíveis três<br />
atores, <strong>em</strong> muitas peças, predominam as estruturas binárias<br />
<strong>de</strong> intervenção 5 .<br />
A imposição <strong>de</strong> três como número máximo <strong>de</strong> atores im‑<br />
plicava que os mesmos se tivess<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdobrar, <strong>de</strong> forma a<br />
po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> correspon<strong>de</strong>r ao número <strong>de</strong> personagens existentes<br />
<strong>em</strong> cada peça 6 e, assim, suprir todas as necessida<strong>de</strong>s e, por<br />
1 A situação r<strong>em</strong>onta a 534 a.C., altura <strong>em</strong> que Atenas se encontrava<br />
sob a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Pisístrato.<br />
2 Cf. Aristóteles, Poética, 4.1449a16.<br />
3 Cf. Bieber (1961: 37‑8).<br />
4 Por ex<strong>em</strong>plo, os Sete Contra Tebas. Há, no entanto, exceções como<br />
o Agamémnon, on<strong>de</strong> Ésquilo recorre à introdução <strong>de</strong> um terceiro ator, para<br />
<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar o papel <strong>de</strong> Cassandra, como forma <strong>de</strong> criar um efeito especial.<br />
5 São disso ex<strong>em</strong>plo Alceste e Me<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s.<br />
6 Esta situação era facilitada pelo facto <strong>de</strong> os atores usar<strong>em</strong> máscara<br />
e, por isso, alterando a mesma, ter<strong>em</strong> a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar<br />
vários papéis <strong>de</strong> forma verosímil. Segundo Rehm (1992: 27), por ex<strong>em</strong>plo,<br />
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