O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
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O <strong>TeaTrO</strong> <strong>GreGO</strong> <strong>em</strong> <strong>COnTexTO</strong> <strong>de</strong> <strong>represenTaçãO</strong><br />
muitos cidadãos adultos, masculinos, não a terão presenciado,<br />
ao passo que muitos outros que não reuniam estas condições<br />
o terão feito.<br />
Assim, para além <strong>de</strong> todo o tipo <strong>de</strong> cidadãos que estariam<br />
presentes, fosse qual fosse a sua categoria profissional ou nível<br />
<strong>de</strong> formação – artesãos, agricultores, sacerdotes, poetas, filósofos<br />
(o que a este nível é representativo da dimensão d<strong>em</strong>ocrática<br />
dos festivais) – é hoje cada vez mais aceite que também os es‑<br />
cravos 18 , as crianças e as mulheres tinham assento no teatro 19 .<br />
Relativamente a estes últimos intervenientes, muito se t<strong>em</strong><br />
discutido sobre o assunto, sendo que exist<strong>em</strong> fontes credíveis<br />
para a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> ambas as teses, ou seja, para os que acreditam<br />
que a sua presença nos festivais fosse uma realida<strong>de</strong> e para os<br />
que assim não o entend<strong>em</strong>.<br />
No que concerne aos primeiros, é comum aludir‑se à tradi‑<br />
ção 20 que dá conta <strong>de</strong> como as mulheres grávidas que assistiam<br />
à representação da Oresteia abortaram <strong>em</strong> consequência da<br />
imag<strong>em</strong> terrífica das Fúrias. São ainda tidos como argumentos<br />
que abonam a favor <strong>de</strong>sta perspetiva os test<strong>em</strong>unhos <strong>de</strong> obras<br />
como a Paz (vv. 962‑967) e as Nuvens (537‑539) <strong>de</strong> Aristófanes,<br />
ou as Leis (7.817c ) <strong>de</strong> Platão.<br />
De qualquer forma, entre aqueles que se inclinam mais<br />
para aceitar a sua presença 21 , há qu<strong>em</strong> seja <strong>de</strong> opinião, como<br />
Sommerstein (1997: 65), <strong>de</strong> que o seu número não era muito<br />
avultado, ou ainda <strong>de</strong> que existiriam lugares especiais para as<br />
mulheres, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Pickard‑Cambrige (1953: 269) 22 , e<br />
18 Cf. Platão, Górgias, 502d.<br />
19 Ghiron‑Bistagne (1976: 196) advoga que, a partir <strong>de</strong> Teofrasto<br />
(Caracteres, 9.5), é possível afirmar‑se que as crianças eram admitidas<br />
no teatro, mesmo nas comédias mais obscenas, tal como os escravos e as<br />
mulheres. Também da Paz (vv. 765‑6) <strong>de</strong> Aristófanes se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> a sua<br />
presença.<br />
20 Vida <strong>de</strong> Ésquilo, p. 4; Pólux, 4.110; Pausânias, 1.28.6.<br />
21 Estão nesse caso estudiosos como Pickard‑Cambridge (1953: 268‑9),<br />
Rehm (1992: 29) e Csapo & Slater (1994: 286).<br />
22 Pickard‑Cambridge baseia‑se num escólio a Aristófanes (Mulheres<br />
na Ass<strong>em</strong>bleia, 22) que acrescenta que, nos finais do séc. V, inícios do séc.<br />
IV a.C., elas não só estariam afastadas dos homens, como haveria distinção<br />
<strong>de</strong> lugares para mulheres livres e cortesãs.<br />
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