O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Isabel Castiajo<br />
Associado aos t<strong>em</strong>pos áureos do teatro grego da Época<br />
Clássica 1 e muito provavelmente como resultado <strong>de</strong> um espaço<br />
<strong>de</strong> performance ao ar livre está, s<strong>em</strong> dúvida, o uso da máscara.<br />
A tradição 2 dá‑nos conta <strong>de</strong> que Téspis, o primeiro trage‑<br />
diógrafo, começou por disfarçar a cara, quando representava,<br />
com ‘alvaia<strong>de</strong>’ sobre o qual, <strong>de</strong>pois, colocou flores, tendo, só<br />
mais tar<strong>de</strong>, recorrido a máscaras <strong>de</strong> linho. Depois, sabe‑se que<br />
Quérilo terá feito algo inespecífico às máscaras e ao vestuário<br />
e que Frínico terá introduzido as máscaras f<strong>em</strong>ininas. Ésquilo<br />
terá sido o primeiro a fazer uso <strong>de</strong> máscaras coloridas e terrífi‑<br />
cas 3 , contrastando, aparent<strong>em</strong>ente, com as máscaras brancas<br />
(en mone othone) 4 <strong>de</strong> Téspis.<br />
Várias têm sido as razões apontadas para justificar este<br />
facto, tais como a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar a projeção vocal 5 ,<br />
a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> facultar aos espectadores uma visualização<br />
mais eficaz das personagens 6 ou a exigência do recurso a um<br />
a<strong>de</strong>reço imprescindível num teatro on<strong>de</strong> não representavam<br />
mulheres 7 . Certo é que parece legítimo concordar com Marshall<br />
(1999: 190) quando afirma que o uso da máscara resulta mais<br />
do facto <strong>de</strong> o espaço <strong>de</strong> performance ser apropriado para isso<br />
do que da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ser essencial representar mascarado para se<br />
transmitir a consciência <strong>de</strong> um outro eu – tese <strong>de</strong>fendida por<br />
Green (1994: 79), que sugere que o motivo subliminar que<br />
1 Pickard‑Cambridge (1953: 177) afirma que é muito incerto o uso<br />
da máscara no período mais r<strong>em</strong>oto da tragédia ateniense, <strong>em</strong>bora, nas<br />
danças satíricas, os dançarinos surgiss<strong>em</strong> mascarados.<br />
2 Suda, s.v. Aischylos.<br />
3 A única evidência arqueológica das características da máscara <strong>de</strong><br />
ator trágico no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Ésquilo é a que está patente nos fragmentos <strong>de</strong><br />
uma oinochoe ática <strong>de</strong> figuras vermelhas encontrada na Ágora <strong>de</strong> Atenas,<br />
<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 470 a.C. (reprod. Pickard‑Cambridge 1953: 178‑179).<br />
4 Vi<strong>de</strong> Pickard‑Cambridge (1953: 177).<br />
5 Aulo Gélio (Noites Áticas, 5.7) afirma que as máscaras serviam para<br />
fazer ressoar a voz dos atores. No entanto, segundo Pickard‑Cambridge<br />
(1953: 193), algumas experiências mo<strong>de</strong>rnas com máscaras manufatura‑<br />
das, <strong>de</strong>ntro do possível, como nos t<strong>em</strong>pos r<strong>em</strong>otos, <strong>de</strong>ixam sérias dúvidas<br />
<strong>em</strong> relação à probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as mesmas alguma vez ter<strong>em</strong> permitido a<br />
ressonância. De qualquer forma, o autor prossegue, afirmando que certa‑<br />
mente nenhum efeito <strong>de</strong> megafone podia ser produzido por uma máscara<br />
fabricada <strong>em</strong> linho, tal como Téspis afirma ter usado; por isso, esse não<br />
seria o material usado originalmente e há dúvidas <strong>de</strong> que esse efeito pu<strong>de</strong>sse<br />
ser conseguido satisfatoriamente s<strong>em</strong> o uso do metal.<br />
6 Vi<strong>de</strong> Marshall (1999: 191).<br />
7 Cf. Seale (1982: 15).<br />
51