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Isabel Castiajo O <strong>de</strong>stino último das performances teatrais ocorridas nos festivais dionisíacos era o da obtenção do primeiro lugar nas competições e, para isso, contribuía largamente a opinião do público, a qu<strong>em</strong> o poeta procurava agradar, já que a sua atitu<strong>de</strong> podia influenciar o voto do júri 1 – as claques organizadas à volta <strong>de</strong> cada poeta e que torciam pelas suas composições são b<strong>em</strong> um ex<strong>em</strong>plo disso 2 . Acresce ainda o facto <strong>de</strong> qualquer artista <strong>em</strong> competição preten<strong>de</strong>r alcançar a simpatia da audi‑ ência por esta ser participativa e manifestar <strong>de</strong> forma explícita o seu agrado ou <strong>de</strong>sagrado relativamente a uma <strong>de</strong>terminada performance, através <strong>de</strong> risadas e aplausos ou <strong>de</strong> assobios 3 e pateadas 4 , cujo barulho era ensur<strong>de</strong>cedor, sobretudo quando os assentos eram ainda <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e não <strong>de</strong> pedra 5 e, por isso, comprometia seriamente o natural <strong>de</strong>senrolar <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>termi‑ nada peça 6 . Quando o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dos atores também não era o mais <strong>de</strong>sejável, frequent<strong>em</strong>ente os espectadores arr<strong>em</strong>es‑ savam objetos 7 , <strong>em</strong> especial alimentos trazidos consigo, como tomates ou ovos. Estas situações eram, no entanto, exceção, uma vez que, por um lado, todo o tipo <strong>de</strong> violência à volta das Dionísias era consi<strong>de</strong>rado um sacrilégio e, portanto, era objeto <strong>de</strong> citação perante a justiça (probole) na Ass<strong>em</strong>bleia que <strong>de</strong>corria no t<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>pois das festivida<strong>de</strong>s e que se <strong>de</strong>stinava sobretudo a julgar <strong>de</strong>litos <strong>de</strong>sta natureza 8 . Por outro lado, a 1 Nas Leis, 2.659a‑b, Platão afirma: “Não <strong>de</strong>ve acontecer que, no teatro, o júri se <strong>de</strong>ixe impressionar pelo barulho da multidão e retire, da sua própria ignorância, a verda<strong>de</strong>… porque não resi<strong>de</strong> no aluno mas sim no mestre o juízo das representações”. Sobre o método <strong>de</strong> seleção do júri dos concursos, vi<strong>de</strong> cap. 1, 27‑28. 2 Cf. Álcifron, Epistológrafo, 3.35.3; Aristófanes, Acarnenses, 658. 3 Vi<strong>de</strong> Rehm (1992: 30). 4 Esta era uma das formas mais comuns <strong>de</strong> d<strong>em</strong>onstrar a insatisfação perante o espetáculo presenciado. 5 Sobre a evolução do edifício teatral, vi<strong>de</strong> cap. 2. 6 Segundo D’ Arnott (1989: 6) exist<strong>em</strong> numerosas histórias <strong>de</strong> audi‑ ências que arruinaram espetáculos, gritando, atirando fruta ou praticando atos ainda piores. 7 Cf. D<strong>em</strong>óstenes, Sobre a falsa <strong>em</strong>baixada, 337. 8 No Discurso Contra Mídias, 178‑180, D<strong>em</strong>óstenes l<strong>em</strong>bra a seve‑ rida<strong>de</strong> da legislação ateniense: Ctésicles foi con<strong>de</strong>nado à morte por ter atingido um dos seus inimigos durante a procissão das Gran<strong>de</strong>s Dionísias. Um outro hom<strong>em</strong>, ainda que fosse assessor e pai do arconte <strong>em</strong> vigor, foi censurado por ter expulsado e batido num espectador que havia tomado um lugar errado. 127
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