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O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...

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Isabel Castiajo<br />

túnica presa aos ombros não por intermédio <strong>de</strong> alfinetes, mas<br />

<strong>de</strong> um colarinho quadrangular, sendo que a peça caía <strong>de</strong>pois<br />

ao longo do corpo e ficava ajustada à cintura através <strong>de</strong> um<br />

cinto largo, forte e ornamentado 10 . Há, no entanto, situações<br />

<strong>em</strong> que se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> o uso dos alfinetes, o que po<strong>de</strong>rá indicar<br />

a influência do chiton no vestuário teatral. Ex<strong>em</strong>plo disso é o<br />

que <strong>de</strong>ve ter acontecido na exibição da Hécuba <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s,<br />

on<strong>de</strong> Marshall (2001: 127) acredita que o didaskalos se tenha<br />

socorrido <strong>de</strong> peplos com alfinetes 11 para vestir as mulheres, já<br />

que este tipo <strong>de</strong> vestuário serviria assim três propósitos: por<br />

um lado, viabilizar a utilização dos alfinetes, não apenas por<br />

uma questão estética, mas como arma usada para provocar<br />

a cegueira <strong>de</strong> Polimestor 12 ; <strong>de</strong>pois, transmitir à audiência a<br />

vulnerabilida<strong>de</strong> sexual a que as mulheres estavam sujeitas 13 ;<br />

por último, aproximá‑las mais da forma tradicional <strong>de</strong> vestir<br />

grega, já que estas mulheres não só tinham sofrido a influência<br />

10 De qualquer forma, no enten<strong>de</strong>r do estudioso (1962: 66‑7), o uso do<br />

peplos como vestuário típico da tragédia não invalidava o facto <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>r<br />

usar outro tipo <strong>de</strong> túnica ou <strong>de</strong> chiton, <strong>em</strong>bora o peplos servisse na perfeição<br />

os interesses teatrais, porquanto permitia que os atores mudass<strong>em</strong> <strong>de</strong> roupa<br />

rapidamente e, numa altura <strong>em</strong> que apenas três atores <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhavam o<br />

papel <strong>de</strong> todas as personagens presentes numa tragédia, a celerida<strong>de</strong> com<br />

que trocavam <strong>de</strong> figurino era, s<strong>em</strong> dúvida, uma condição sine qua non<br />

para a escolha <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> vestuário.<br />

11 Esta forma <strong>de</strong> fixar a peça com o recurso a alfinetes, a broches ou<br />

fíbulas, podia ocorrer quer no chiton, quer no himation.<br />

12 Vi<strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, Hécuba, 1053. Este a<strong>de</strong>reço foi também utilizado<br />

para provocar a cegueira <strong>de</strong> Édipo na peça homónima <strong>de</strong> Sófocles (Édipo<br />

arranca os alfinetes que prendiam o vestido <strong>de</strong> Jocasta e crava‑os nas órbitas).<br />

13 A carga erótica associada a este figurino resultava do facto <strong>de</strong> o<br />

peplos ser aberto <strong>de</strong> um dos lados para expor mais o corpo. Na Andrómaca,<br />

598, Eurípi<strong>de</strong>s torna essa conotação sexual explícita através das palavras<br />

proferidas por Peleu, na <strong>de</strong>scrição do traje único usado pelas donzelas<br />

espartanas, que era aberto dos lados <strong>de</strong> forma a mostrar as suas coxas,<br />

quando estas se moviam. Obviamente que, neste caso concreto, é maior a<br />

força das palavras do que a concretização prática <strong>de</strong>sta situação, porquanto<br />

qualquer personag<strong>em</strong> f<strong>em</strong>inina era <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhada por um hom<strong>em</strong> e, por<br />

isso, a carga erótica pretendida dificilmente po<strong>de</strong>ria ser representada. Uma<br />

outra consequência resultante do uso <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> vestuário era que, ao<br />

r<strong>em</strong>over os alfinetes, o peplos caía, expondo o peito, tal como se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong><br />

ter acontecido nas Traquínias, 923‑26, <strong>de</strong> Sófocles, <strong>em</strong>bora, mais uma<br />

vez, houvesse alguma dificulda<strong>de</strong> prática na representação <strong>de</strong>sta situação.<br />

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