O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Isabel Castiajo<br />
<strong>de</strong>limitasse o recinto reservado aos atores e espectadores, como<br />
também intrínseca ao <strong>de</strong>senrolar da própria peça; daí que,<br />
não raras vezes, o público fosse chamado a participar como<br />
interveniente na mesma. É o que acontece, por ex<strong>em</strong>plo, nas<br />
Euméni<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Ésquilo 13 , on<strong>de</strong> a audiência acaba por se i<strong>de</strong>ntifi‑<br />
car com os cidadãos que estariam presentes no Areópago para<br />
julgar<strong>em</strong> o crime perpetrado por Orestes, ou nos Acarnenses<br />
<strong>de</strong> Aristófanes, on<strong>de</strong> o público acaba por <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar o papel<br />
dos participantes na Ass<strong>em</strong>bleia.<br />
Na comédia, esta proximida<strong>de</strong> era ainda mais sentida, já que<br />
os atores, muitas vezes, se dirigiam diretamente à assistência 14 .<br />
Veja‑se o caso <strong>de</strong> Diónisos, nas Rãs <strong>de</strong> Aristófanes (v. 298), que<br />
interpela o verda<strong>de</strong>iro sacerdote do <strong>de</strong>us, sentado na primeira<br />
fila do teatro 15 . Outras vezes, chegavam mesmo a “admoestá‑la”<br />
fisicamente, como quando a saraivavam com nozes e frutos 16 .<br />
De qualquer forma, e segundo D’Arnott (1989: 13), o momento<br />
<strong>em</strong> que esta proximida<strong>de</strong> se tornava mais evi<strong>de</strong>nte era aquando<br />
da parábase, existente na maior parte das comédias conservadas,<br />
e que era a altura <strong>em</strong> que o coro quebrava a ilusão cénica e se<br />
dirigia diretamente à audiência.<br />
A constituição <strong>de</strong>sta audiência é, no entanto, uma ques‑<br />
tão que t<strong>em</strong> levantado alguma controvérsia já que, <strong>em</strong>bora<br />
ten<strong>de</strong>ncialmente os espectadores das performances teatrais<br />
tenham vindo a ser i<strong>de</strong>ntificados com o corpo dos cidadãos<br />
atenienses 17 , não só porque se vislumbra a partir <strong>de</strong> alguns<br />
passos <strong>de</strong> comédias e até <strong>de</strong> tragédias que assim fosse, como<br />
também pelo facto <strong>de</strong> os festivais ser<strong>em</strong> reconhecidos como<br />
ocasiões artísticas, religiosas e cívicas, há, <strong>em</strong> todo o caso,<br />
estudiosos como Sommerstein (1997: 64) que acreditam que,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente da performance dramática consi<strong>de</strong>rada,<br />
13 Segundo D’Arnott (1989: 17), nesta tragédia, a participação da<br />
audiência é progressiva, cumulativa e, no final, total.<br />
14 Stanford (1983: 14) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> mesmo que, na comédia, atores e coro<br />
podiam <strong>de</strong>slocar‑se e tocar nos espectadores. Já na tragédia, as convenções<br />
inerentes ao género proibiam que isso acontecesse. Vi<strong>de</strong> Sommerstein<br />
(1997: 65).<br />
15 Outros ex<strong>em</strong>plos pod<strong>em</strong> ainda ser citados, como sendo a interpela‑<br />
ção direta do coro à audiência nas Aves (1071 sqq.) <strong>de</strong> Aristófanes, ou <strong>de</strong><br />
Estrepsía<strong>de</strong>s nas Nuvens (1201 sqq.) do mesmo comediógrafo.<br />
16 Aristófanes (Vespas, 58‑59) lista esta como uma das características<br />
mais familiares da comédia.<br />
17 Assim o t<strong>em</strong> <strong>de</strong>fendido, por ex<strong>em</strong>plo, Zeitlin (1990: 65).<br />
129