O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
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Isabel Castiajo<br />
realmente a ser sacrificados conferia mais verosimilhança às<br />
mortes encenadas fora do alcance da vista dos espectadores.<br />
Esta skene principiou por ser um edifício <strong>em</strong> ma<strong>de</strong>ira e<br />
t<strong>em</strong>porário 15 , que assumia uma dupla função, porquanto,<br />
internamente, funcionaria como local <strong>de</strong> arrumos e como<br />
camarim 16 , usado pelos atores para a mudança <strong>de</strong> vestuário 17 ;<br />
externamente, servia <strong>de</strong> estrutura suscetível <strong>de</strong> representar um<br />
<strong>de</strong>terminado cenário que, segundo Bieber (1961: 59), seria fa‑<br />
cilmente alterado durante as interrupções entre as quatro peças<br />
<strong>de</strong> uma tetralogia ou durante a noite, entre os dias <strong>de</strong> festival 18 .<br />
Além disso, proporcionava aos espectadores a ilusão <strong>de</strong> que a<br />
ação podia ocorrer fora do alcance da sua vista.<br />
A primeira produção que necessitou <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s edifícios, um<br />
t<strong>em</strong>plo e um palácio, foi a Oresteia <strong>de</strong> Ésquilo, <strong>em</strong> 458 a.C. 19 ,<br />
e é por esta razão que é comummente aceite que a introdução<br />
da skene terá ocorrido aquando da apresentação <strong>de</strong>sta tragédia<br />
esquiliana 20 .<br />
Sófocles é apresentado por Aristóteles (Poética, 4.1449a<br />
18) como tendo sido o primeiro cenógrafo. Os cenários por<br />
15 Wiles (1997: 161) acredita que a skene t<strong>em</strong>porária não estaria no local<br />
no dia das danças circulares e dos sacrifícios, já que a audiência haveria <strong>de</strong><br />
querer ter uma visão dos sacrifícios tribais que eram o natural culminar<br />
das danças ditirâmbicas.<br />
16 Acerca da conceção da skene como skenotheke, cf. Bieber (1961: 59).<br />
D’Arnott (1989: 3), tendo <strong>em</strong> conta que literalmente skene significa ‘cabana’<br />
ou ‘tenda’, acredita que, nos primeiros t<strong>em</strong>pos do teatro, esta estrutura<br />
cumprisse realmente essa função e mais não fosse do que um camarim,<br />
um local <strong>de</strong> on<strong>de</strong> os atores podiam fazer a sua entrada <strong>em</strong> cena e, talvez,<br />
um espaço on<strong>de</strong> podiam aquecer a voz.<br />
17 Inicialmente, não existiria qualquer estrutura traseira e os atores<br />
vestir‑se‑iam provavelmente no bosque, uma vez que as longas partes<br />
cantadas do coro proporcionavam‑lhes t<strong>em</strong>po suficiente para mudar<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> roupa; mas <strong>de</strong>pois houve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> facultar condições para que<br />
a execução <strong>de</strong>ssa tarefa fosse mais rápida, já que, nas últimas peças <strong>de</strong><br />
Ésquilo e <strong>em</strong> Sófocles, as intervenções do coro passaram a ser <strong>de</strong> menor<br />
duração e importância.<br />
18 Pickard‑Cambridge (1946: 123) consi<strong>de</strong>ra que a alteração dos ce‑<br />
nários passou a ser vista como uma rotina e que por isso podia ocorrer<br />
diante dos olhos dos espectadores, s<strong>em</strong> que isso lhes ferisse a sensibilida<strong>de</strong>.<br />
19 As peças anteriores a esta requeriam simples a<strong>de</strong>reços, como altares,<br />
pedras ou túmulos, que podiam facilmente ser colocados na orquestra.<br />
20 Esta opinião é partilhada por Matino (1998: 150), que afirma que<br />
naquele ano a skene assumiu uma forma <strong>de</strong>finitiva e assim se pô<strong>de</strong> falar <strong>em</strong><br />
representações dramáticas da vivência humana sobre um fundo cenográfico.<br />
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