O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O <strong>TeaTrO</strong> <strong>GreGO</strong> <strong>em</strong> <strong>COnTexTO</strong> <strong>de</strong> <strong>represenTaçãO</strong><br />
5.3 - voz<br />
A voz era, s<strong>em</strong> dúvida, um dos maiores requisitos do ator 23<br />
e o seu melhor veículo <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> mensagens, <strong>em</strong>oções,<br />
sentimentos. Num espaço que ditava a distância física, por vezes<br />
acentuada, entre atores e espectadores, e on<strong>de</strong> o uso da máscara<br />
impedia a visualização <strong>de</strong> expressões faciais, o ator tinha <strong>de</strong> se<br />
servir das palavras para transmitir o seu estado <strong>de</strong> espírito e<br />
era também por intermédio <strong>de</strong>ssas palavras que o espectador<br />
vivia o momento e criava o ambiente intrínseco à peça a que<br />
assistia 24 ; daí que o maior critério para julgar o talento <strong>de</strong> um<br />
ator fosse, s<strong>em</strong> dúvida, a qualida<strong>de</strong> da voz 25 , que se pretendia<br />
com características <strong>de</strong> megalophonia, euphonia e lamprotes.<br />
Assim, e segundo D’Arnott (1989: 79), tanto no século IV como<br />
no V a.C., boa projeção vocal, eufonia e limpi<strong>de</strong>z na voz eram<br />
os gran<strong>de</strong>s atributos <strong>de</strong> um ator 26 e, por esta razão também,<br />
qualquer falha cometida por este era severamente con<strong>de</strong>nada<br />
pela audiência. Pólux (4.114) lista um conjunto <strong>de</strong> falhas <strong>em</strong><br />
que, <strong>em</strong> termos vocais, um ator podia incorrer 27 .<br />
Esta importância extr<strong>em</strong>a da voz levava a que houvesse<br />
certos cuidados 28 com a mesma e exigia treinos constantes.<br />
23 Cf. Rehm (1992: 50); Rispoli (1998: 56). Pickard‑Cambridge (1953:<br />
165) acrescenta que era igualmente importante a beleza da tonalida<strong>de</strong><br />
e a adaptação à personalida<strong>de</strong> da personag<strong>em</strong> representada, daí que<br />
Aristóteles reforçasse a importância para o ator das figuras <strong>de</strong> estilo b<strong>em</strong><br />
como colocasse alguma ênfase na capacida<strong>de</strong> que este <strong>de</strong>via possuir <strong>de</strong><br />
repetir o mesmo <strong>em</strong> tonalida<strong>de</strong>s diferentes. Vi<strong>de</strong> Aristóteles, Poética, 19.<br />
1456b; Retórica, 3.12.<br />
24 D’Arnott (1989: 93) acrescenta que, na tragédia, a linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong>‑<br />
finia e coloria a imaginação da audiência, pintando imagens na fachada<br />
<strong>em</strong> branco da skene, tal como acontecia com as máscaras que, através das<br />
palavras, ganhavam novas expressões. Sobre a importância das palavras<br />
no teatro grego, vi<strong>de</strong> cap. 7, 135‑136.<br />
25 A importância da voz é <strong>de</strong>fendida por autores como Aristóteles (Ética<br />
a Nicómaco, 3.1118a), Pseudo‑Plutarco (Vida dos Dez Oradores, 848b) ou<br />
Zenão (apud Diógenes Laércio, Vidas e opiniões <strong>de</strong> filósofos <strong>em</strong>inentes, 7.20).<br />
26 As qualida<strong>de</strong>s da voz passavam também, no enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Rispoli<br />
(1998: 56), não só pela correta dicção como também pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
produzir sons inarticulados e mecânicos, como acontece no lamento <strong>de</strong><br />
Ájax, na peça homónima <strong>de</strong> Sófocles (vv. 305 sqq.).<br />
27 Entre elas conta‑se a <strong>de</strong> falar com voz <strong>de</strong> mulher, e terá sido por<br />
isso que Sófocles não teve uma gran<strong>de</strong> intervenção como ator.<br />
28 Aristótles (Probl<strong>em</strong>as, 11.901b5‑16), refere a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fazer<br />
dieta para não arruinar a voz. Por ex<strong>em</strong>plo, a carne assada não era con‑<br />
si<strong>de</strong>rada um alimento a<strong>de</strong>quado para qu<strong>em</strong> tinha <strong>de</strong> falar <strong>em</strong> público.<br />
84