O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
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O <strong>TeaTrO</strong> <strong>GreGO</strong> <strong>em</strong> <strong>COnTexTO</strong> <strong>de</strong> <strong>represenTaçãO</strong><br />
Assim, e segundo Stanford (1983: 85‑87), os gestos conven‑<br />
cionais para traduzir a dor extr<strong>em</strong>a eram: escon<strong>de</strong>r a cara,<br />
bater com a mão na cabeça e no corpo, arrancar ou cortar o<br />
cabelo 50 , arranhar a cara e rasgar as próprias roupas 51 . Noutras<br />
ocasiões, como acontece com a heroína da Hécuba <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s<br />
(vv. 486‑7), este sentimento podia também ser representado<br />
através da queda da personag<strong>em</strong> no chão ou simplesmente com<br />
a personag<strong>em</strong> prostrada, com olhar cabisbaixo 52 .<br />
Para d<strong>em</strong>onstrar uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> súplica, as mulheres e crian‑<br />
ças, angustiadas, ajoelhavam‑se e tocavam as faces ou a barba<br />
daqueles a qu<strong>em</strong> suplicavam, ou então puxavam‑lhes as vestes 53 .<br />
Na súplica extr<strong>em</strong>a por pieda<strong>de</strong>, as mulheres <strong>de</strong>snudavam os<br />
seios 54 , <strong>em</strong>bora não pareça credível que esta situação ocorresse<br />
no teatro, porquanto os atores eram homens e a maior parte<br />
da audiência não po<strong>de</strong>ria visualizar este pormenor, à distância<br />
que se encontrava. Daí que Stanford (1983: 86) sugira que <strong>de</strong>‑<br />
via apenas ser simulado o gesto <strong>de</strong> <strong>de</strong>spir. Quanto à forma <strong>de</strong><br />
transmitir que uma <strong>de</strong>terminada personag<strong>em</strong> estava a chorar 55 ,<br />
era possível fazê‑lo apenas por palavras, uma vez que a máscara<br />
impedia a visualização <strong>de</strong>ssa e <strong>de</strong> qualquer outra expressão<br />
facial. Já para evi<strong>de</strong>nciar que a personag<strong>em</strong> estava a rezar, um<br />
dos gestos mais comuns consistia nos braços esticados para a<br />
frente e para cima, com as palmas da mão voltadas também<br />
para cima. No entanto, quando as palavras eram dirigidas a<br />
um <strong>de</strong>us ctónico, o gesto convencional consistia no bater do<br />
pé no chão por parte da personag<strong>em</strong> 56 .<br />
No que respeita ao medo e ao terror, era frequente tradu‑<br />
zir estas <strong>em</strong>oções colocando o braço a meia distância, com a<br />
mão <strong>de</strong> lado a revelar uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> repulsa <strong>em</strong> relação ao<br />
el<strong>em</strong>ento terrífico, como se po<strong>de</strong> visualizar no kalyx krater do<br />
estilo Gnatia, <strong>de</strong> Ruvo, conservado <strong>em</strong> Leninegrado (reprod.<br />
Pickard‑Cambridge 1953: fig. 177) que representa a Pítia<br />
50 Esta atitu<strong>de</strong> era assumida, principalmente, para revelar o luto que<br />
a personag<strong>em</strong> vivia. Havia, no entanto, outras formas <strong>de</strong> o d<strong>em</strong>onstrar,<br />
como sendo escon<strong>de</strong>r a cara. Vi<strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, Orestes, 280‑1; 294‑5, quando<br />
o herói pergunta à irmã por que razão ela chora e encobre a cabeça.<br />
51 Vi<strong>de</strong> Ésquilo, Coéforas, 22‑31; Eurípi<strong>de</strong>s, Electra, 146‑50.<br />
52 Vi<strong>de</strong> Sófocles, Antígona, 441.<br />
53 Vi<strong>de</strong> Antígona, no Édipo <strong>em</strong> Colono <strong>de</strong> Sófocles, 1414.<br />
54 Vi<strong>de</strong> Hermíone, na Andrómaca <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, 822‑3.<br />
55 Vi<strong>de</strong> Ésquilo, Coéforas, 185‑6.<br />
56 Vi<strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s, Me<strong>de</strong>ia, 1056 sqq.<br />
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