O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
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O <strong>TeaTrO</strong> <strong>GreGO</strong> <strong>em</strong> <strong>COnTexTO</strong> <strong>de</strong> <strong>represenTaçãO</strong><br />
distribuídas provisões, no próprio teatro 37 , que eram consumi‑<br />
das, na perspetiva <strong>de</strong> Aristóteles (Ética a Nicómaco, 10.1175b<br />
1), quando as peças não tinham qualida<strong>de</strong>.<br />
Inicialmente, tudo indica que os espetáculos foss<strong>em</strong> gratui‑<br />
tos, mas, a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada altura, todos os espectadores,<br />
cidadãos ou estrangeiros, começaram a ter que pagar para<br />
ace<strong>de</strong>r ao teatro, pelo que, por isso, os festivais dramáticos<br />
acabam por não ser consi<strong>de</strong>rados um tipo <strong>de</strong> ocasião cívica,<br />
normal, porquanto <strong>em</strong> nenhuma outra festivida<strong>de</strong> se verifica‑<br />
va esta situação. Este pagamento, conhecido como theorikon,<br />
foi estabelecido <strong>em</strong> meados do século V a.C. 38 e teve como<br />
finalida<strong>de</strong> evitar as disputas que comummente aconteciam<br />
para se assegurar um lugar 39 , limitando o número dos mesmos<br />
e <strong>de</strong>limitando, através <strong>de</strong> muros, o recinto do teatro 40 . Foi,<br />
então, criado um fundo público 41 , <strong>de</strong> forma a que os cidadãos<br />
pobres pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> também ace<strong>de</strong>r aos bilhetes, através da dis‑<br />
ponibilização garantida pelo Estado <strong>de</strong> dois óbolos 42 , quantia<br />
indispensável para se proce<strong>de</strong>r à compra dos mesmos e que não<br />
podia ser utilizada para qualquer outro fim.<br />
Pickard‑Cambridge <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que era o próprio Estado que<br />
pagava essa quantia por cada um dos lugares ao responsável<br />
37 Segundo Csapo & Slater (1994: 290), esta distribuição fazia parte<br />
do rol <strong>de</strong> encargos dos coregos cómicos.<br />
38 Segundo Wiles (1997: 59), as fontes associam esta alteração a Péricles.<br />
Cf. Plutarco, Péricles, 9.<br />
39 Wiles (1997: 59) refere que fontes antigas atestam que antes do tea‑<br />
tro <strong>em</strong> pedra ter sido construído, as pessoas optavam por guardar lugares<br />
durante a noite e havia anarquia na forma como os tentavam reclamar.<br />
Vi<strong>de</strong> Escólio a Luciano, Tímon, 49.<br />
40 Na opinião <strong>de</strong> Csapo & Slater (1994: 288), esta foi também uma forma<br />
<strong>de</strong> estabilizar o preço dos bilhetes, para permitir acessibilida<strong>de</strong> universal;<br />
ou seja, preten<strong>de</strong>u‑se assim estabelecer um preço <strong>de</strong> referência, para evitar<br />
as especulações do “mercado negro”, como hoje <strong>em</strong> dia também acontece.<br />
41 Ulpiano (Sobre D<strong>em</strong>óstenes, Olintíaca, 1.1) afirma que a luta entre<br />
cidadãos e estrangeiros começou a ser tão violenta, e o preço dos lugares,<br />
praticado pelo responsável pelo recinto teatral, tão abusivo, que, para dar<br />
aos pobres a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ace<strong>de</strong>r<strong>em</strong> aos bilhetes, Péricles instituiu um<br />
fundo teórico a partir do qual era atribuído dinheiro para se comprar<strong>em</strong><br />
lugares.<br />
42 Cf. D<strong>em</strong>óstenes, Sobre a Coroa, 28. De acordo com Filócoro (História<br />
da Ática, 3), a soma paga ascendia a uma dracma, mas, segundo Pickard‑<br />
‑Cambridge (1953: 271), essa quantia podia resultar do pagamento dos<br />
três dias <strong>em</strong> que <strong>de</strong>corriam as tragédias. Também no escólio a Luciano<br />
(Tímon, 49) a quantia referida é uma dracma.<br />
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