O TeaTrO GreGO em COnTexTO de represenTaçãO - Universidade ...
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O <strong>TeaTrO</strong> <strong>GreGO</strong> <strong>em</strong> <strong>COnTexTO</strong> <strong>de</strong> <strong>represenTaçãO</strong><br />
cia <strong>de</strong> que assim era, já que, no dizer <strong>de</strong> Johnson (apud Bain<br />
1977: 6), é falso que qualquer representação fosse confundida<br />
com a realida<strong>de</strong>, uma vez que os espectadores tinham s<strong>em</strong>pre<br />
a noção, do princípio até ao fim, <strong>de</strong> que o palco era apenas o<br />
palco e os atores apenas atores. Da mesma opinião partilha<br />
Capone (1935: 26), que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o ator tinha o ofício e<br />
a obrigação <strong>de</strong> interpretar e recriar, e <strong>de</strong> dar uma nova vida,<br />
sob a forma dramática e representativa, à visão do poeta. Daí<br />
que exatamente por esta razão as qualida<strong>de</strong>s e o talento dos<br />
atores foss<strong>em</strong> apreciados e julgados e, <strong>de</strong>ste reconhecimento,<br />
resultasse a <strong>de</strong>signação dos vencedores.<br />
A forma verbal hypokrinomai começou por significar, na<br />
Ilíada (e.g. 7.407; 12.228) e na Odisseia (e.g. 19.535, 555),<br />
‘interpretar sonhos’ ou ‘respon<strong>de</strong>r a questões’. Com o signi‑<br />
ficado <strong>de</strong> ‘representar’, o verbo aparece pela primeira vez, na<br />
literatura conservada, <strong>em</strong> meados do século IV a.C. 17 , mas<br />
Pickard‑Cambridge (1953: 127) acredita que a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong><br />
ator como hypokrites seria já usada no século V a.C. e que não<br />
haveria nenhum outro termo para <strong>de</strong>nominar atores, <strong>em</strong> geral,<br />
incluindo os protagonistas. A atestá‑lo está o facto <strong>de</strong> ser com<br />
este sentido que a palavra é usada por Platão (Banquete, 194b )<br />
e outros autores, sendo também sob esta forma que aparec<strong>em</strong><br />
mencionados os protagonistas vitoriosos (e.g. I.G. II 2 . 2318),<br />
<strong>de</strong>pois que se instituiu a competição dos atores trágicos, cerca<br />
<strong>de</strong> 449 a.C.<br />
Durante o século IV a.C., outros vocábulos são utilizados<br />
como o <strong>de</strong> tragodos e komodos para <strong>de</strong>signar, respetivamente, ator<br />
trágico e ator cómico. No entanto, nessa altura o significado<br />
mais recorrente <strong>de</strong>stas palavras era o da tragédia e comédia 18 ,<br />
coreuta trágico e cómico, ou mesmo, tragediógrafo e comedió‑<br />
grafo 19 . Só a partir <strong>de</strong> 280 a.C. os termos começam a ser usados<br />
regularmente para <strong>de</strong>nominar atores, sobretudo os protagonistas<br />
das peças antigas, nomeadamente nos registos dos vencedores,<br />
quer nos festivais <strong>de</strong> Delfos e Delos, quer noutros locais, sendo<br />
d<strong>em</strong>onstra Di<strong>de</strong>rot no Paradoxo sobre a Comédia, <strong>em</strong> representar algo que<br />
não tinha <strong>em</strong> conta o gosto dos espectadores.<br />
17 D<strong>em</strong>óstenes, Sobre a falsa <strong>em</strong>baixada, 246; Aristóteles, Ética a<br />
Nicómaco, 7.1147a23; Retórica, 3.1403b26‑33.<br />
18 Vi<strong>de</strong> Ésquines, Contra Ctesifonte, 34, 41, 45, 154.<br />
19 Ghiron‑Bistagne (1976: 124) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, no entanto, que no século<br />
IV a.C. estas palavras eram usadas mais recorrent<strong>em</strong>ente para <strong>de</strong>signar<br />
ator trágico e ator cómico.<br />
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