Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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INTRODUÇÃO<br />
Cada um <strong>de</strong> nós, daqui on<strong>de</strong> está, t<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre apenas um horizonte; estamos na<br />
fronteira do mundo <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os – e só o outro po<strong>de</strong> nos dar um ambiente,<br />
<strong>completa</strong>r o que <strong>de</strong>sgraçadamente falta ao nosso próprio olhar (TEZZA, apud BRAIT,<br />
1995, p. 211). A citação <strong>de</strong> Cristóvão Tezza nos faz viajar pela instigante aventura <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scobrir o que a literatura po<strong>de</strong> nos oferecer. O “outro”, conforme Tezza afirma<br />
quando relaciona tal pensamento ao conceito <strong>de</strong> exotopia, cunhado por Bakhtin, trata-se<br />
do autor, com suas personagens, seu enredo, seu romance. São esses os alicerces da<br />
reflexão e da <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novos mundos interiores para os quais a obra literária é<br />
capaz <strong>de</strong> nos conduzir. Ao constatarmos tais caminhos, v<strong>em</strong>os a literatura como fonte<br />
humanizadora da socieda<strong>de</strong>, que, segundo Candido (1972, p. 806) constitui sua<br />
principal função: humaniza <strong>em</strong> sentido profundo, porque faz viver.<br />
Da mesma forma, Foster (1974) menciona que um dos lados da natureza humana<br />
é expresso, no <strong>de</strong>correr da história, por meio das ações e da existência espiritual do<br />
indivíduo. Mas seu lado romanesco inclui paixões genuínas, como alegrias, tristezas,<br />
meditações e sonhos, muitas vezes impedidos <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> expostos pela vergonha e<br />
poli<strong>de</strong>z peculiares à aura humana. E a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> romper com tal limitação e<br />
expressar esse lado da natureza humana é uma das principais funções do romance.<br />
Com isso, verificamos que o romance que escolh<strong>em</strong>os como corpus <strong>de</strong>sta<br />
pesquisa, Pedro e Paula, t<strong>em</strong> como particularida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>snudamento <strong>de</strong> nossos<br />
interiores, tão inquietos, por meio das também inquietas construções <strong>de</strong> nosso autor,<br />
Hel<strong>de</strong>r Macedo. Ele nos faz observar a figura f<strong>em</strong>inina enquanto personificação do<br />
encanto, um certo tipo <strong>de</strong> perfeição, numa obra <strong>de</strong> autoria masculina, escrita por meio<br />
<strong>de</strong> palavras muito sedutoras.<br />
E a respeito da inquietação <strong>de</strong> nossos interiores, que <strong>em</strong> Pedro e Paula (1998)<br />
surge ao observamos a construção <strong>de</strong> Paula, sua principal personag<strong>em</strong>, citamos Foster<br />
(1974, p. 68) que traz à baila o seguinte: a particularida<strong>de</strong> do romance está no escritor<br />
po<strong>de</strong>r falar sobre suas personagens, tanto quanto através <strong>de</strong>las, ou permitir-nos ouvi-<br />
las enquanto falam consigo mesmas. Contudo, Hel<strong>de</strong>r Macedo explica, <strong>em</strong> entrevista,<br />
sua particularida<strong>de</strong> <strong>em</strong> escrever sobre as mulheres, quando interrogado a respeito da<br />
maneira <strong>de</strong>, enquanto hom<strong>em</strong>, construir suas personagens f<strong>em</strong>ininas:<br />
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