Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

O romance mostra essa pluralidade de vozes sobretudo com Paula, que traz
consigo as marcas dessa violência produzida pela ideologia, mas que resiste a tal
autoritarismo, sobressaindo-se ao seu tempo.
Para entendermos melhor esse jogo de vozes apresentado no romance,
verificaremos os conceitos de polifonia e homofonia, criados por Bakhtin.
Em princípio, Bakhtin (2002) explica que todos os textos são possuidores de
vozes, mesmo os assim ditos monólogos, pois no monólogo não há apenas uma única
voz, mas várias delas; porém, há uma voz que domina as demais.
Mas os textos podem conter uma única direção, assim como muitas outras, e
ainda apresentarem igualdade ou não na definição de valores e ideologias. É nesse ponto
que Bakhtin (2002) explicita seu conceito de polifonia, à qual se opõe o conceito de
homofonia. A homofonia não é representante de uma única voz mas sim de vozes que
seguem uma mesma direção, uma mesma ideologia, sem contraposição de valores, o
que confere um único direcionamento às personagens; diferente da polifonia, em que as
personagens divergem entre si, em seus valores e ideais, e com isso não há como se
atribuir somente um ponto de vista, mas vários deles. Esses pontos de vista são
divergentes, mas todos apresentados num mesmo nível, de igualdade, sem uma
determinada hierarquia, ou seja, não seria induzido ao leitor um julgamento de quem, ou
o que, seria bom ou ruim, certo ou errado. Assim, cabe ao leitor averiguar qual lado lhe
parece ser o mais conveniente. No texto homofônico pode, também, haver diferenças de
valores entre as personagens, porém a desigualdade é muito bem marcada; logo, o leitor
pode verificar a direção em que a história segue, pois a indução é apontada para uma
determinada ideologia, surgindo, assim, uma hierarquia.
Dessa maneira, verificamos que Bakhtin, ao criar os termos diálogo e monólogo,
confere a existência de vozes a quaisquer deles; mas há a presença de uma ideologia
única (no texto monofônico) ou de várias ideologias (no texto dialógico), e a essas
ideologias serão direcionadas as tessituras da homofonia ou da polifonia.
Em Pedro e Paula há uma pluralidade de vozes, porém não há polifonia. José,
Pedro e Ana são vozes que não obtêm ascensão, como a de Paula, havendo assim uma
desigualdade entre elas. Da mesma forma, há uma personagem que induz o leitor a
tomar partido por um dos gêmeos, no caso, Paula: o narrador. Ele promove uma
hierarquia entre as demais personagens; colocando-as, inclusive ela própria, em
desigualdade ao explicitar seus valores e ideologias. Sendo assim, a voz no narrador é
que confere a homofonia do texto. Nesse sentido, erroneamente, poderíamos supor que
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