Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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introduz no romance. Cada um <strong>de</strong>les admite uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes<br />
sociais e <strong>de</strong> diferentes ligações e correlações (s<strong>em</strong>pre dialogadas, <strong>em</strong><br />
maior ou menor grau) (BAKHTIN 1998, p.74-75).<br />
Quando Bakhtin (1981) se refere ao discurso <strong>de</strong> outr<strong>em</strong>, relaciona o diálogo com<br />
uma investigação mais profunda das formas usadas na citação do discurso, uma vez que<br />
essas formas reflet<strong>em</strong> tendências básicas e constantes da recepção ativa do “discurso <strong>de</strong><br />
outras pessoas”, carregadas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia, vivências e historicida<strong>de</strong>. Essa recepção é<br />
fundamental para o diálogo, uma vez que todo indivíduo que dialoga traz, <strong>em</strong> si, suas<br />
marcas e influências, e é por meio <strong>de</strong>ssas que também irá buscar subsídios no discurso<br />
que o outro oferece. Afirma o autor, a respeito:<br />
A língua não é o reflexo das hesitações subjetivo-psicológicas, mas<br />
das relações sociais estáveis dos falantes. Conforme a língua,<br />
conforme a época ou os grupos sociais, conforme o contexto<br />
apresente tal ou qual objetivo específico, vê-se dominar ora uma<br />
forma ora outra, ora uma variante ora outra. O que isso atesta é a<br />
relativa força ou fraqueza daquelas tendências na interorientação<br />
social <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falantes, das quais as próprias formas<br />
lingüísticas são cristalizações estabilizadas e antigas. (BAKHTIN,<br />
1981, p.147)<br />
Dessa forma, Bakhtin (1998. p. 127) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o plurilingüismo introduzido<br />
no romance é “o discurso <strong>de</strong> outr<strong>em</strong> na linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong> outr<strong>em</strong>, que serve para refratar a<br />
expressão das intenções do autor”. Esse plurilingüismo atua no romance <strong>em</strong> forma <strong>de</strong><br />
pessoa, s<strong>em</strong>pre ao fundo <strong>de</strong> um diálogo mantido entre autor, leitor, narrador e<br />
personag<strong>em</strong>.<br />
Em Pedro e Paula (1998), t<strong>em</strong>os as vozes masculinas representadas por José e<br />
Pedro, pai e irmão <strong>de</strong> Paula, respectivamente, carregadas <strong>de</strong> autoritarismo e preconceito,<br />
como fruto da i<strong>de</strong>ologia dominante <strong>em</strong> que a socieda<strong>de</strong>, no romance, é inserida.<br />
Uma das vozes f<strong>em</strong>ininas, Ana, a mãe <strong>de</strong> Paula, projeta na filha aquilo que<br />
almejava e não conseguiu, ou seja, resistir à i<strong>de</strong>ologia dominante que lhe foi imposta,<br />
como mulher e esposa.<br />
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