Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
as marcas da socieda<strong>de</strong>, pois sua criação foi realizada <strong>em</strong> meio a um contexto que <strong>em</strong>ite<br />
idéias, valores e características.<br />
Reportando-se ao texto literário, a crítica sociológica não o verifica como<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, ou seja, não é criado a partir da vonta<strong>de</strong> e da inspiração do autor, mas é<br />
criado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto, numa <strong>de</strong>terminada língua, numa <strong>de</strong>terminada época,<br />
segundo uma <strong>de</strong>terminada i<strong>de</strong>ologia; e carrega <strong>em</strong> si as marcas <strong>de</strong>sse texto. Portanto,<br />
segundo a leitura da crítica sociológica, um romance <strong>de</strong>ve fazer uma ponte estética entre<br />
realida<strong>de</strong> social, coletiva e representação artística.<br />
Dentro do panorama das correntes <strong>de</strong> investigação literária do século XX, a<br />
sociológica t<strong>em</strong> norteado gran<strong>de</strong> parte dos estudos cont<strong>em</strong>porâneos, uma vez que se<br />
verificou que a estrutura imanente revela-se insuficiente para explicar a obra literária. A<br />
esse respeito, literatura não seria um sist<strong>em</strong>a, mas sim uma expressão humana<br />
participante na formação do hom<strong>em</strong> e influenciada por uma certa função psicológica,<br />
constatada, também, como uma necessida<strong>de</strong> universal.<br />
Nesse caso, o indivíduo passaria por um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta, por intensa<br />
ativida<strong>de</strong> crítica, cabendo a ele, unicamente, aceitar ou não sua i<strong>de</strong>ntificação com a obra<br />
a partir <strong>de</strong> seu contexto.<br />
Sendo assim, um dos papéis importantes, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhado pelas várias<br />
modalida<strong>de</strong>s da crítica literária é, por meio da obra, incitar o leitor à análise da<br />
socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> que vive, conforme Silva (apud BONNICI; ZOLIN, 2003, p. 124)<br />
salienta: é preciso que [...] cada leitor comece a observar o mundo que nos cerca e<br />
perceba, aos poucos, que os nossos hábitos, crenças e valores não surgiram<br />
‘naturalmente’, n<strong>em</strong> são eternos.<br />
De acordo com esse viés da crítica sociológica, os estudos <strong>de</strong> Mikhail Bakhtin<br />
encaixam-se nessa corrente sobretudo pela valorização da fala e da enunciação. A<br />
natureza social é evi<strong>de</strong>nte <strong>em</strong> ambas, pois fala e escrita estão indissoluvelmente ligadas<br />
às condições da comunicação, que, por sua vez, estão s<strong>em</strong>pre ligadas às estruturas<br />
sociais. Nesse sentido, faz<strong>em</strong>os essa observação <strong>em</strong> Pedro e Paula (1998), <strong>de</strong> nosso<br />
autor, Hel<strong>de</strong>r Macedo, pois suas personagens estão vinculadas ao meio social, e<br />
conseqüent<strong>em</strong>ente histórico, <strong>de</strong> Portugal e da África. Sob esse viés é que se encaixa a<br />
corrente social contida na narrativa. As personagens José, Ana, Gabriel, Fernanda,<br />
Pedro e Paula são frutos do meio social <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>, transpassados pela época <strong>de</strong><br />
ditadura, guerra e revolução. Apesar <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> reflexos do meio sócio-histórico <strong>de</strong> uma<br />
nação, as personagens não são produtos do meio social, mas uma potencialida<strong>de</strong><br />
22