Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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viver. Acresce (e posso dizê-lo porque este livro não é dirigido ao<br />
mercado americano, on<strong>de</strong> gostar <strong>de</strong> mulheres é antif<strong>em</strong>inismo)<br />
acresce que como <strong>de</strong>sign não conheço nada <strong>de</strong> mais completo n<strong>em</strong><br />
mais interessante. De modo que obrigadinho e <strong>de</strong>sculp<strong>em</strong>. Don<strong>de</strong>,<br />
dirás tu que é dado à ironia: tratas tão b<strong>em</strong> as mulheres que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
todas as malda<strong>de</strong>s que no último capítulo fizeram – que fizeste, se as<br />
inventasse – à tua, dizes agora, boa amiga Paula que já não dá para se<br />
saber muito b<strong>em</strong> se afinal existe ou não existe, pões-te por aí a<br />
divagar sobre isto e sobre aquilo s<strong>em</strong> sequer uma palavra <strong>de</strong><br />
compaixão. E direi eu, que preferiria não ter <strong>de</strong> explicar tudo [...], p.<br />
216.<br />
Todavia, já tiv<strong>em</strong>os provas suficientes da preferência <strong>de</strong>le pela Paula, como<br />
também da colocação das outras personagens f<strong>em</strong>ininas num segundo plano, o que<br />
assim contribuiu para a exaltação da moça. De qualquer forma, as imagens das <strong>de</strong>mais<br />
mulheres não são construídas da mesma forma que as personagens masculinas. O que<br />
confere uma característica <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> entre essas outras é o fracasso, o que contribui<br />
para o <strong>de</strong>staque na construção <strong>de</strong> Paula, que está s<strong>em</strong>pre superior a elas.<br />
Toda essa exaltação <strong>de</strong> Paula é manipulada pela voz masculina do narrador, que<br />
se traveste <strong>de</strong> autor e confun<strong>de</strong>-se com Macedo. T<strong>em</strong>os então uma autoria masculina<br />
que constrói duas vozes <strong>em</strong> evidência: a f<strong>em</strong>inina, que é regida pela masculina.<br />
Conforme constatamos, muitas características acerca do discurso f<strong>em</strong>inino, evi<strong>de</strong>ntes na<br />
construção <strong>de</strong> personagens f<strong>em</strong>ininas, eram tidas como <strong>de</strong> exclusivida<strong>de</strong> da autoria<br />
f<strong>em</strong>inina. Entretanto, Julia Kristeva e Hèléne Cixous <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o outro lado da questão:<br />
a autoria masculina po<strong>de</strong> também construir a voz f<strong>em</strong>inina tanto quanto as escritoras o<br />
faz<strong>em</strong>.<br />
Kristeva (1974) explica, <strong>em</strong> estudo sobre as obras Lautréamont e Mallarmé,<br />
realizado na passag<strong>em</strong> da década <strong>de</strong> 60 para 70, que a autoria masculina po<strong>de</strong> conter<br />
aspectos da autoria f<strong>em</strong>inina, ou seja, a voz masculina (do autor) po<strong>de</strong> construir um<br />
discurso especificamente f<strong>em</strong>inino, utilizando os mesmo artifícios que as escritoras. A<br />
autora obteve essa conclusão quando verifica que a divisão social está <strong>em</strong> meio aos<br />
pensamentos do sujeito, <strong>de</strong> acordo com os caminhos que lhe indicam a religião, a<br />
família e a política. Sendo assim, a i<strong>de</strong>ologia que caracteriza <strong>de</strong>terminada socieda<strong>de</strong><br />
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