Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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Assim Xavier (2007) <strong>de</strong>fine o conceito <strong>de</strong> corpo erotizado: Trata-se <strong>de</strong> um<br />
corpo que vive sua sensualida<strong>de</strong> plenamente e que busca usufruir <strong>de</strong>sse prazer,<br />
passando ao leitor, através <strong>de</strong> um discurso pleno <strong>de</strong> sensações, a vivência <strong>de</strong> uma<br />
experiência erótica, (XAVIER, 2007, p. 157). Esse tipo <strong>de</strong> experiência é atribuído a<br />
Paula, já que o narrador <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> construí-la utilizando, também, os <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> suas<br />
características físicas: f<strong>em</strong>ininas e belas, além <strong>de</strong> eróticas:<br />
Talvez também porque tivesse assim podido vir a permitir-se saber o<br />
que as mulheres s<strong>em</strong>pre souberam e <strong>de</strong>sapren<strong>de</strong>ram com os homens,<br />
e que com aquele hom<strong>em</strong> Paula finalmente pô<strong>de</strong> permitir-se: a total<br />
sexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser mulher, quando numa noite, <strong>de</strong> repente, se<br />
encontraram olhos nos olhos do outro lado <strong>de</strong> todos os disfarces, pois<br />
já não era ela que estava a ser penetrada por ele, mas ela que o estava<br />
a envolver, a incorporar <strong>em</strong> si como só uma mulher po<strong>de</strong> porque para<br />
isso foram feitos os órgãos <strong>de</strong> que é feita, p. 145.<br />
Essa passag<strong>em</strong> nos diz sobre o primeiro envolvimento sexual que Paula t<strong>em</strong> com<br />
Gabriel. Esse momento marca o início <strong>de</strong> uma relação que terá fim apenas quando<br />
Gabriel morre, também num momento s<strong>em</strong>elhante, ou seja, <strong>em</strong> ato sexual, com Paula.<br />
Isso acontece anos mais tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois do nascimento <strong>de</strong> Filipa, que só é narrado no fim<br />
do romance.<br />
Com Gabriel ela <strong>de</strong>scobre o amor, realmente, entre uma mulher e um hom<strong>em</strong>,<br />
mas nessa época Paula já era in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e resolvida acerca <strong>de</strong> sua sexualida<strong>de</strong>. Sendo<br />
assim, o corpo erotizado, conforme (XAVIER, 1997, p. 158) explica, po<strong>de</strong> ou não estar<br />
envolvido pelo amor, mas estará, seguramente, vivendo sua sexualida<strong>de</strong>. E não há<br />
dúvidas <strong>de</strong> que o narrador mostra que Paula sabia viver sua sexualida<strong>de</strong>. Atribui a ela a<br />
curiosida<strong>de</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>scobrir um mundo novo, diferente do que lhe tentaram impor, como<br />
v<strong>em</strong>os na afirmação <strong>de</strong> Paula logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> explicar a Gabriel a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> romper o<br />
hímen na incisão cirúrgica, realizada pela médica, <strong>em</strong> com<strong>em</strong>oração à chegada da<br />
maiorida<strong>de</strong>:<br />
[...] E <strong>de</strong>pois fui para a cama com tudo o que era gente, e às vezes<br />
quase n<strong>em</strong> era. Porque só havia medo e prisões à minha volta. E<br />
mentiras. E disfarces. Mesmo para obter o que estava a ser oferecido<br />
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livr<strong>em</strong>ente. Mesmo para justificar uma ereção previamente