Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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verídica, o que, no entanto, po<strong>de</strong> não o ser. Essa característica, como estamos estudando<br />
no romance <strong>em</strong> questão, é muito utilizada por Hel<strong>de</strong>r Macedo. Inclusive, esse traço lhe<br />
é bastante peculiar, pois <strong>em</strong> Partes <strong>de</strong> África (1991) e Vícios e Virtu<strong>de</strong>s (2000), como<br />
já citamos, também há a presença <strong>de</strong> um “autor”-narrador <strong>de</strong>nominado Hel<strong>de</strong>r Macedo.<br />
Em Pedro e Paula (1998), Macedo continua com as mesmas características que<br />
r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma muito acentuada ao autor, entida<strong>de</strong> real e extratextual, pois <strong>em</strong><br />
Partes <strong>de</strong> África (1991) há o mesmo “autor”-narrador. Sendo assim, t<strong>em</strong>os um autor<br />
sedutor construindo um narrador também sedutor. Como resultado, as <strong>de</strong>mais<br />
personagens arquitetadas pelo narrador são misturadas, num processo <strong>de</strong> ficção e<br />
realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro do que seria a história “real” <strong>de</strong>las e o romance que ele escreve. O<br />
conceito que atribuímos à sedução é <strong>em</strong>prestado <strong>de</strong> Edimir Perroti (1986) que, a<br />
respeito da literatura infantil concluiu que um texto sedutor é construído sob aspectos <strong>de</strong><br />
incertezas, probabilida<strong>de</strong>s, e <strong>de</strong>ssa forma ocasionam dúvidas e curiosida<strong>de</strong> ao leitor.<br />
Logo no início do romance, quando Hel<strong>de</strong>r narra o nascimento dos gêmeos,<br />
realizado pela enfermeira-nazista al<strong>em</strong>ã, <strong>de</strong>ixa <strong>em</strong> evidência o cruzamento entre a<br />
realida<strong>de</strong> dos fatos e a hipotética construção <strong>de</strong> suas personagens:<br />
É a sua nazi eficiência que se <strong>de</strong>ve este livro, <strong>de</strong>ix<strong>em</strong>o-la portanto <strong>em</strong><br />
paz com seus fantasmas e o gás das anestesias que veio a facilitar-lhe<br />
o suicídio daí uns anos, pois s<strong>em</strong> o sucesso do parto as personagens<br />
<strong>de</strong>sta minha história teriam tido <strong>de</strong> ser outras mesmo se para<br />
significar<strong>em</strong> o mesmo, como quaisquer po<strong>de</strong>riam nas transpostas<br />
circunstâncias e parciais correspondências <strong>em</strong> que parecess<strong>em</strong><br />
significar outra coisa, p. 20.<br />
A incerteza está presente <strong>em</strong> todo o romance, conforme t<strong>em</strong>os verificado <strong>em</strong><br />
diversos aspectos. Já nos títulos <strong>de</strong> alguns capítulos po<strong>de</strong>mos constatar essa dubieda<strong>de</strong>:<br />
Entradas e saídas; A virtu<strong>de</strong> e o muito imaginar; Intenções e projeções; Os males e os<br />
que vêm por b<strong>em</strong>; Espíritos e corpos; O não e o sim; C<strong>em</strong>itério dos prazeres, Pois é.<br />
Há, também, inúmeras marcas <strong>de</strong> ambigüida<strong>de</strong> no <strong>de</strong>correr do romance, s<strong>em</strong>pre<br />
aparecendo a voz do narrador no comando das certezas e incertezas, <strong>de</strong>ntre as quais<br />
<strong>de</strong>stacamos, entre outras:<br />
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