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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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po<strong>de</strong>ria conviver in<strong>de</strong>finidamente com tal dúvida. José morre atirando contra a própria<br />

cabeça; no entanto, <strong>de</strong>ixa uma herança convicta <strong>de</strong> seu caráter dominador: Pedro.<br />

Contrariamente à meta <strong>de</strong> Bourdieu (2007) <strong>de</strong> que os agentes, após minucioso<br />

trabalho <strong>de</strong> <strong>de</strong>s(historização), <strong>de</strong>v<strong>em</strong> se libertar <strong>de</strong> sua herança tida como natural,<br />

verificamos que a personag<strong>em</strong> <strong>de</strong> José não consegue tal proeza. Muito pelo contrário:<br />

como as <strong>de</strong>mais personagens, com exceção <strong>de</strong> Paula, ele é <strong>de</strong>rrotado por todos os<br />

“fantasmas” que o assombram, o que resulta na perda da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver.<br />

2.2 Pedro: a herança <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a opressor e dominador<br />

Pedro é a personag<strong>em</strong> que mais representa o sist<strong>em</strong>a dominador. É ele qu<strong>em</strong><br />

constrói toda a trama <strong>de</strong> opressão para Paula, que provém <strong>de</strong>s<strong>de</strong> José. Des<strong>de</strong> o<br />

nascimento Pedro já é colocado pelo narrador como o que queria s<strong>em</strong>pre estar à frente<br />

da irmã, mas que sabia, no íntimo, que era realmente um fraco, ou seja, o oposto <strong>de</strong>la.<br />

Por isso, jamais <strong>de</strong>ixaria que ela se <strong>de</strong>stacasse mais do que ele, pois, afinal, ele era<br />

hom<strong>em</strong> e <strong>de</strong>veria s<strong>em</strong>pre estar <strong>em</strong> primeiro lugar, acima <strong>de</strong> qualquer suspeita quanto à<br />

sua eficiência, inteligência e força.<br />

Des<strong>de</strong> as primeiras mamadas Pedro já se mostrava furioso para tomar o lugar da<br />

irmã: “Muda-os querida, já estás com isso <strong>em</strong> sangue!” Não posso, ele não <strong>de</strong>ixa!”<br />

“Mas ao menos alterna-os, escusam <strong>de</strong> mamar os dois ao mesmo t<strong>em</strong>po.” Um <strong>de</strong>sastre:<br />

daí <strong>em</strong> diante era tudo <strong>de</strong>le e a menina teve <strong>de</strong> ser passada para um bibeirão<br />

clan<strong>de</strong>stino nos intervalos. T<strong>em</strong>peramentos. Metáforas da história”, p. 21.<br />

É interessante salientar como o autor contrói uma contraposição <strong>de</strong> valores entre<br />

suas personagens. Como já observado, a realida<strong>de</strong> social está mantida viva <strong>em</strong> todo o<br />

texto; sendo assim, no que tange aos irmãos, Pedro representa todo um passado<br />

colonialista evi<strong>de</strong>nciado por uma postura dominadora, o qual reflete todo um contexto<br />

histórico marcado pela agressivida<strong>de</strong> política, o que ocasiona uma luta interna e secreta<br />

contra a irmã.<br />

Esse confronto <strong>de</strong> forças po<strong>de</strong> ser verificado no texto como um todo, ou seja, os<br />

irmãos encarnam i<strong>de</strong>ais opostos, que representam a libertação <strong>de</strong> Lourenço Marques <strong>de</strong><br />

Portugal, assim como a libertação <strong>de</strong> Portugal do regime salazarista. Cada um <strong>de</strong>les<br />

representa, também, a opressão e a libertação das duas nações, e dos agentes que faz<strong>em</strong><br />

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