Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
quando começa a driblar a dominação <strong>de</strong> Pedro e José, até chegar à mocida<strong>de</strong>. E assim<br />
parte à procura do autoconhecimento, <strong>de</strong>scobrindo as artes, a liberda<strong>de</strong> política e o<br />
amor. Essa trajetória nos é apresentada sob um clima <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta e curiosida<strong>de</strong>, pois o<br />
início <strong>de</strong> tudo se dá quando parte <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> Gabriel, o padrinho exilado e “proibido”<br />
pelo pai, repudiado pelo irmão e l<strong>em</strong>brado com sauda<strong>de</strong> pela mãe.<br />
Sendo assim, Hel<strong>de</strong>r mostra que Paula sai <strong>de</strong> uma família dominadora e <strong>de</strong> um<br />
país dominado, e <strong>de</strong>scobre o mundo e todas as oportunida<strong>de</strong>s que possa oferecer. Dessa<br />
forma é que acontece, no caso <strong>de</strong> Paula, a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> corpo sexuado para corpo<br />
liberado, porém essas duas vertentes caminham juntas por um t<strong>em</strong>po, <strong>em</strong> busca da<br />
liberda<strong>de</strong>: liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mulher outrora dominada, liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mente livre das<br />
i<strong>de</strong>ologias patriarcais, resultando, assim, <strong>em</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha, <strong>de</strong> seu corpo e da<br />
própria vida; enfim, <strong>de</strong> ser a única a <strong>de</strong>cidir sobre si e seu <strong>de</strong>stino.<br />
Essa é a Paula por qu<strong>em</strong> o narrador t<strong>em</strong> apreço, e s<strong>em</strong> dúvida ele a constrói sob<br />
uma forma muito agradável aos olhos dos hipotéticos leitores: minuciosamente moldada<br />
com perfeição e beleza, <strong>de</strong> corpo e <strong>de</strong> mente, e, principalmente, <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s. E não é à<br />
toa que todos os outros personagens, também articulados pelo narrador, são<br />
apaixonados por ela.<br />
A respeito <strong>de</strong>ssa liberda<strong>de</strong> expressada <strong>em</strong> Paula, sob o viés <strong>de</strong> Hel<strong>de</strong>r,<br />
Figueiredo (2001) explica sobre o grito <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>em</strong> festa e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>spertado por<br />
corpos que tanto po<strong>de</strong>rão ser acarinhados como violados, quando discute sobre os<br />
personagens <strong>de</strong> Pedro e Paula. A autora faz breve ensaio sobre o significado e a<br />
expansão do corpo, no romance, a começar pelo narrador, que <strong>de</strong>senha o corpo <strong>de</strong> Paula<br />
com perfeição, conforme vimos anteriormente, percorrendo, no papel, o corpo que está<br />
a <strong>de</strong>senhar: nariz, feição, olhos, boca, pés, construindo na linguag<strong>em</strong> a posse do corpo<br />
f<strong>em</strong>inino. 4<br />
Também concordamos com Figueiredo (2001) quando menciona que o corpo <strong>de</strong><br />
Paula foi invadido por Pedro, Ana e José, cada um a sua maneira, conforme vimos nos<br />
aspectos citados com base <strong>em</strong> Bourdieu. Ana projeta na filha os <strong>de</strong>sejos que nunca se<br />
concretizaram, e a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Paula também é figurada como uma espécie <strong>de</strong> corpo<br />
metafórico, durante um jogo <strong>de</strong> toques corporais com requintes sarcásticos, entre Ana e<br />
Ricardo Vale, que utilizam a fotografia <strong>de</strong> Paula numa tentativa <strong>de</strong> sanar o <strong>de</strong>sejo<br />
4 Figueiredo, Monica do Nascimento. O corpo, esta casa no mundo. A própósito <strong>de</strong> Pedro e Paula <strong>de</strong><br />
Hel<strong>de</strong>r Macedo, 2001. Disponível <strong>em</strong> http://www.geocities.com/ail_br/ocorpoesta<strong>em</strong>casanomundo.htm.<br />
Todas as citações, <strong>de</strong>sta autora, s<strong>em</strong> página numeradas estão disponíveis neste en<strong>de</strong>reço.<br />
79