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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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uma possível igualda<strong>de</strong> ou pelo menos s<strong>em</strong>elhança, pois ela era, acima <strong>de</strong> tudo, mulher,<br />

ou seja, precisava <strong>de</strong> cuidados e <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong>, na oportunida<strong>de</strong> o irmão, para guiá-la.<br />

Esse tipo <strong>de</strong> caracterização é evi<strong>de</strong>nciado, também, por Bourdieu (2007), no que<br />

se refere à divisão homóloga dos corpos. Algumas oposições são evi<strong>de</strong>ntes no processo<br />

<strong>de</strong> incorporação, como alto/baixo, fraco/forte, associadas ao fator biológico, segundo o<br />

qual homens e mulheres possu<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas diferenças, como uma espécie <strong>de</strong><br />

relação <strong>de</strong> forças, as quais são facilmente interiorizadas no inconsciente. O sociólogo<br />

explica que “a divisão entre os sexos parece estar na or<strong>de</strong>m das coisas” (BOURDIEU,<br />

2007, p. 17), e <strong>de</strong>ssa forma é consi<strong>de</strong>rada como natural, normal, e até mesmo inevitável.<br />

As divisões estariam presentes <strong>em</strong> todo lugar, como um estado objetivado, a<br />

ex<strong>em</strong>plo da casa, <strong>em</strong> que todos os lugares são metaforicamente sexuados. Isso ocorreria<br />

da mesma forma nas relações do mundo social, incorporados assim no habitus dos<br />

agentes.<br />

Da mesma forma, como explica Bourdieu, ser hom<strong>em</strong>, no sentido <strong>de</strong> vir,<br />

implica um <strong>de</strong>ver-ser, uma virtus, que se impõe sob a forma do “é evi<strong>de</strong>nte por si<br />

mesma”, s<strong>em</strong> discussão (BOURDIEU, 2007, p. 63). Nesse caso, Pedro, por ser o irmão,<br />

o hom<strong>em</strong>, ficaria acima <strong>de</strong> qualquer suspeita <strong>em</strong> relação aos cuidados que teria para<br />

com Paula. A ele seriam atribuídas todas as responsabilida<strong>de</strong>s perante a irmã, o que<br />

fazia com que os pais confiass<strong>em</strong> nele, e, obviamente, <strong>em</strong> tudo que lhes dissesse.<br />

Todavia, foi ele também qu<strong>em</strong> permitiu a Paula a conquista da liberda<strong>de</strong>, s<strong>em</strong><br />

perceber que assim o fazia. Os esforços por convencer pai e mãe <strong>de</strong> que era o mais<br />

correto e centrado, e, por assim dizer, o responsável pela irmã, foram todos <strong>em</strong> vão, já<br />

que, por adotar essa postura, enclausurou-se num mundo <strong>de</strong> mentiras, que i<strong>de</strong>alizou para<br />

ser mostrado aos outros, e foi assim que Paula teve o caminho aberto para buscar seus<br />

i<strong>de</strong>ais.<br />

O próprio narrador nos confirma o insucesso dos planos <strong>de</strong> Pedro:<br />

O que entretanto aconteceu foi que na timorata Lisboa universitária<br />

do início dos anos 60 não havia muitos estudantes com casa própria,<br />

a hospitalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedro tornou-se lendária, o whisky, os Lucky<br />

Strike <strong>de</strong> contrabando, o bridge até altas horas, a sua cultura também,<br />

livros, discos, jornais e revistas estrangeiras, uma elaboradíssima<br />

alta-fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, até o piano <strong>em</strong>bora ele não tocasse e fosse um<br />

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presente da mãe para Paula. Provocou as necessárias invejas para

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