Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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adquire o início <strong>de</strong> sua ascensão <strong>em</strong> relação às outras personagens, que não obtêm o<br />
mesmo <strong>de</strong>stino. Assim se expressa o narrador:<br />
Viera <strong>de</strong> Paris, para on<strong>de</strong> tinha ido após dificílimas negociações<br />
epistolares com a mãe, porque o pai queria-a <strong>de</strong> regresso imediato a<br />
Moçambique on<strong>de</strong>, dizia, se po<strong>de</strong> tanto ser pintor como <strong>em</strong> qualquer<br />
Europa. Em todo o caso, consi<strong>de</strong>rava que já era altura <strong>de</strong> ela assentar,<br />
<strong>de</strong>ixar-se <strong>de</strong> fantasias, quando muito ir ensinar <strong>de</strong>senho no Liceu<br />
Salazar mas <strong>de</strong> preferência marido e filhos. “Asas cortadas s<strong>em</strong> saber<br />
se as tenho. Com a melhor das intenções, estou certa, quanto mais<br />
cedo menos dói”, p. 37.<br />
Quando chegou a Paris recebeu, por três meses, auxílio financeiro <strong>de</strong> José,<br />
resultado da intercessão <strong>de</strong> Ana. Depois disso, foi <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> seu sustento. A voz que<br />
nos conta sua trajetória, o narrador Macedo, explica com <strong>de</strong>talhes como foi a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />
buscar Gabriel, após uma jornada mista <strong>de</strong> trabalho e auto-realização:<br />
Mas redimiu nas galerias da marg<strong>em</strong> esquerda as Belas-Artes <strong>de</strong><br />
Lisboa, conheceu alguns expatriados portugueses, pintores,<br />
escritores, foragidos, objetores das guerras da África, aconteceu<br />
Maio, <strong>de</strong>ixou-se ir ficando para ver como era uma revolução, se era<br />
mesmo revolução. O dinheiro esgotou-se rapidamente, s<strong>em</strong>anas e não<br />
meses, mas havia s<strong>em</strong>pre alguém que sabia <strong>de</strong> um quarto on<strong>de</strong><br />
pu<strong>de</strong>sse dormir, baguettes partilhadas, sobras <strong>de</strong> frutas nos mercados.<br />
Desenhou os artistas que ainda se conseguiss<strong>em</strong> encontrar nas<br />
esplanadas dos cafés, lavou pratos <strong>em</strong> restaurantes com direito a<br />
fundos <strong>de</strong> tachos <strong>de</strong>pois dos últimos clientes [...], p. 37<br />
A personag<strong>em</strong> passa pelo momento <strong>de</strong> busca pela liberda<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>scobre, <strong>em</strong><br />
contato vivo, um mundo proveniente da esquerda política, que iria <strong>de</strong> encontro com os<br />
i<strong>de</strong>ais que lhe foram impostos pelo pai e pelo irmão. Após ter cuidado <strong>de</strong> alguns rapazes<br />
que apanharam da polícia, Paula é encorajada por eles a procurar Gabriel.<br />
“Conversamos muito, fizeram-me pensar muito. Tenho muito para pensar”. E foi assim<br />
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