Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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justa – “eu a integrá-lo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim” Deixamos a esplanada e<br />
andamos um pouco pelo parque. Fui-lhe mostrar o lago das aves e o<br />
jardim das rosas, que estava um esplendor. “Se isto é que é o<br />
incesto...”, disse Paula. Mas não seria àquela explosão <strong>de</strong> rosas <strong>de</strong><br />
todas as cores que estava a referir-se, p. 234-235.<br />
Ainda num misto <strong>de</strong> exaltação da figura <strong>de</strong> Paula com a incerteza dos fatos,<br />
Hel<strong>de</strong>r patenteia, até o último momento, astúcia <strong>em</strong> construir sua personag<strong>em</strong>. Nessa<br />
etapa, a realida<strong>de</strong> dos fatos mesclada com a dinâmica da incerteza, no romance fictício,<br />
estão <strong>em</strong> efervescência. Até o último momento Macedo conduz as duas personagens<br />
<strong>em</strong> meio a esse jogo sedutor. Observamos com isso, durante todo o romance, inclusive,<br />
o diálogo que o autor cria entre essas duas personagens que, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os salientar, são<br />
masculinas e f<strong>em</strong>ininas, eis a questão primordial.<br />
Assim, verificamos diversas marcas masculinas na construção da voz <strong>de</strong> Paula,<br />
s<strong>em</strong>pre balizadas pelo crivo do narrador; entretanto, há uma cumplicida<strong>de</strong> com o<br />
f<strong>em</strong>inino por meio da linguag<strong>em</strong>, quando constatamos as características atribuídas por<br />
ele, tanto físicas quanto <strong>em</strong>ocionais e psíquicas: É uma apresentação <strong>de</strong> Paula como um<br />
ser perfeito, lindo e adorável por todos, e mulher: uma mulher magnífica, que encanta a<br />
todos os homens, <strong>de</strong>ixando-os, à sua estranha maneira, apaixonados. Além disso, as<br />
mulheres Ana e Fernanda, que se projetam <strong>em</strong> Paula, vê<strong>em</strong> <strong>de</strong>spertar <strong>em</strong> si mesmas, <strong>de</strong><br />
certa forma, o <strong>de</strong>sejo <strong>em</strong> relação ao que “po<strong>de</strong>riam ter sido”.<br />
A certa altura, Hel<strong>de</strong>r confessa sua cumplicida<strong>de</strong> ficcional para com as mulheres<br />
<strong>em</strong> geral, nos seus romances:<br />
A propósito do Brasil: uma jov<strong>em</strong> universitária <strong>de</strong> lá que leu o meu<br />
último romance disse-me há t<strong>em</strong>pos qualquer coisa no gênero <strong>de</strong> que<br />
nele eu trato as mulheres “b<strong>em</strong> <strong>de</strong>mais”. Dadas as diferenças entre o<br />
português <strong>de</strong> cá e <strong>de</strong> lá isto po<strong>de</strong> significar duas coisas: ou<br />
simpaticamente que sou um escritor que até dá gosto no tratamento<br />
das personagens f<strong>em</strong>ininas (sentido brasileiro) ou, a gozar-me<br />
imenso, que sou apenas um parvo dum sentimentalhão (sentido<br />
português). Devia ter esclarecido na altura. Outra dúvida que vai ficar<br />
s<strong>em</strong> resposta. E no entanto se assim fosse (<strong>em</strong> ambos os sentidos) até<br />
seria justo. Afinal <strong>de</strong>vo-lhes tudo: nascer, comer, falar, andar e amar,<br />
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e assim por diante até po<strong>de</strong>r ir morrer um dia <strong>de</strong>stes tendo gostado <strong>de</strong>