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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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com isso precisaram <strong>de</strong>ixar seus sonhos e anseios para trás, no passado. Paula é, enfim,<br />

a vitoriosa, aquela que representa a nação que foi reprimida, a voz f<strong>em</strong>inina que se<br />

libertou das amarras da opressão. Essa personag<strong>em</strong> é o símbolo das vozes f<strong>em</strong>ininas que<br />

tiveram a corag<strong>em</strong> <strong>de</strong> enterrar a inferiorida<strong>de</strong> que a dominação masculina lhes tentou<br />

impor, aquelas que tiveram a ousadia <strong>de</strong> lutar por sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos obscuros e<br />

conflituosos, as que buscaram a realização profissional, e, acima <strong>de</strong> tudo, a pessoal. É<br />

portadora das vozes da tomada <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> Abril, num país que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantos anos <strong>de</strong><br />

opressão, não mais se <strong>de</strong>ixou comandar, assim como carrega <strong>em</strong> si as marcas da<br />

ascensão <strong>de</strong> uma nação <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> revigoramento.<br />

Hel<strong>de</strong>r, o narrador, representa a voz masculina que rege a gran<strong>de</strong> orquestra: é o<br />

escritor que não me<strong>de</strong> esforços para enaltecer sua figura f<strong>em</strong>inina predileta, sob a<br />

influência da paixão. É a voz que submete as <strong>de</strong>mais, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas certezas e<br />

incertezas; que sabiamente constrói as personagens <strong>de</strong> acordo com suas preferências; é o<br />

narrador, travestido <strong>de</strong> “autor”, com muitas características s<strong>em</strong>elhantes às da própria<br />

vida. A esse respeito, convém ainda l<strong>em</strong>brar quando Schüler (1989) menciona que autor<br />

e narrador não se confun<strong>de</strong>m, pois o primeiro é o fundador do mundo romanesco ao<br />

qual o segundo pertence. Isso é b<strong>em</strong> verda<strong>de</strong>iro porque a confusão <strong>em</strong>brenhada nas teias<br />

das incertezas e probabilida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> perfeitamente iludir os leitores menos atentos, no<br />

romance <strong>em</strong> questão. Assim, sua narração perigosa, astuta, tão cheia <strong>de</strong> hipóteses e <strong>de</strong><br />

dúvidas entrelaçadas, portando uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> não fi<strong>de</strong>digna, que r<strong>em</strong>ete à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

do autor, tudo isso só nos leva a cogitar <strong>de</strong> ser esse o principal recurso sedutor que o<br />

autor nos apresenta como um <strong>de</strong> seus traços marcantes.<br />

Com base <strong>em</strong> tais evidências é que escolh<strong>em</strong>os as concepções teóricas que iriam<br />

subsidiar a análise do texto literário. Eleg<strong>em</strong>os Bakhtin para validarmos a pluralida<strong>de</strong><br />

das vozes construídas no romance, a saber José, Pedro, Ana, Paula, Fernanda, Ricardo<br />

Vale e Hel<strong>de</strong>r. Esse teórico, com sua concepção acerca do discurso, nos campos social e<br />

literário, ajudou-nos no <strong>de</strong>senvolvimento da análise <strong>de</strong> tais personagens, sobretudo<br />

quanto à regência da voz do narrador, que predomina no romance.<br />

Assim, s<strong>em</strong> per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista as concepções teóricas <strong>de</strong> Bakhtin, <strong>de</strong>cidimos nos<br />

servir também dos resultados das ricas experiências no campo social obtidos por<br />

Bourdieu, cuja pesquisa nos ajudou a <strong>de</strong>limitar as vozes masculinas e f<strong>em</strong>ininas, e a<br />

buscar a compreensão do caminho percorrido por elas, quando submetidas ao processo<br />

<strong>de</strong> incorporação sócio-histórica, <strong>em</strong> todo o romance. Da mesma forma que Bakhtin,<br />

Bourdieu nos mostrou o percurso <strong>de</strong> cada uma das personagens, quando atingiram o<br />

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