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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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viviam. Ele projeta na esposa, e mais tar<strong>de</strong> nos filhos, tal incorporação, adquirida <strong>de</strong><br />

modo inconsciente.<br />

O relacionamento com Paula é o <strong>de</strong> um pai dominador. Não queria que ela fosse<br />

para Lisboa, e os argumentos do irmão gêmeo é que o fizeram concordar com sua ida,<br />

para estudar. Impõe então a Pedro a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong>la e <strong>de</strong> vigiá-la. Esse<br />

filho é a personag<strong>em</strong> que mais se i<strong>de</strong>ntifica com a dominação masculina, herança obtida<br />

do pai.<br />

Em trocas <strong>de</strong> cartas, José e Pedro trocam confissões a respeito <strong>de</strong> Paula e <strong>de</strong><br />

Ana. Pedro queixa-se do comportamento “libertino” da irmã, constant<strong>em</strong>ente, e o pai<br />

retruca:<br />

Estou indignado com o comportamento da tua irmã. A culpa porém<br />

não é tua. É <strong>de</strong>la, que <strong>de</strong>via saber portar-se como uma mulher<br />

honesta. E se a culpa é <strong>de</strong> mais alguém então é nossa, minha e da<br />

vossa mãe, por não a termos sabido disciplinar, por a termos <strong>de</strong>ixado<br />

sair do nosso controle. A responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ela ter ido tão nova<br />

para a Metrópole também não foi tua. Foi da vossa mãe, que lhe<br />

meteu idéias na cabeça <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito pequena, e minha, que permiti.<br />

Como se uma rapariga pu<strong>de</strong>sse ter o teu sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>.<br />

Tu fizeste o que podias para ajudar a tua irmã e mais não po<strong>de</strong>rias ter<br />

feito. Mas tenho <strong>de</strong> <strong>de</strong>sabafar contigo. Faz-me vergonha sabê-la<br />

assim, a entregar-se a qualquer. Não foi para isso que a criamos. E<br />

agora escreveu à vossa mãe a dizer que quer ir para Paris por causa<br />

da pintura. Da pintura que põe na cara para atrair os homens? O<br />

melhor seria que viesse para aqui. Mas não a posso forçar porque já<br />

atingiu a maiorida<strong>de</strong>. Só po<strong>de</strong>ria cortar-lhe as mesadas. É tão<br />

irresponsável que disse que se lhe pagáss<strong>em</strong>os a ida a Paris <strong>de</strong>pois<br />

prescindiria do nosso apoio finaceiro. Deus sabe as poucas-vergonhas<br />

que faria s<strong>em</strong> dinheiro, que tenciona fazer para obter. Se quer tanto<br />

ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, aqui teria a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensinar no liceu, <strong>de</strong><br />

trabalhar honestamente. De se tornar uma mulher respeitável. De se<br />

casar, se algum hom<strong>em</strong> honrado ainda a quisesse como esposa. Mas a<br />

vossa mãe encoraja-a <strong>em</strong> todas as loucuras, aceita todas as vergonhas.<br />

Até já me tentou convencer que Paris seria uma possibilida<strong>de</strong> a<br />

consi<strong>de</strong>rar. Como se mesmo financeiramente fosse fácil, para não<br />

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falar do resto. Como se eu catasse dinheiro na carapinha dos pretos.

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