Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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O sujeito vai constituindo-se discursivamente, apreen<strong>de</strong>ndo as vozes<br />
sociais que constitu<strong>em</strong> a realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que está imerso, e, ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po, suas inter-relações dialógicas. Como a realida<strong>de</strong> não é<br />
heterogênea, o sujeito não absorve apenas uma voz social, mas várias,<br />
que estão <strong>em</strong> relações diversas entre si. Portanto, o sujeito é<br />
constitutivamente dialógico. Seu mundo interior é constituído <strong>de</strong><br />
diferentes vozes <strong>em</strong> relações <strong>de</strong> concordância ou discordância, p. 55.<br />
Essas vozes sociais são as que constitu<strong>em</strong> os diferentes tipos <strong>de</strong> discurso.<br />
Conforme observamos <strong>em</strong> Pedro e Paula (1998), há os dois tipos <strong>de</strong> discurso<br />
(i<strong>de</strong>ologias) ex<strong>em</strong>plificados pelas personagens, e por meio <strong>de</strong>las observamos a<br />
pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações e pensamentos <strong>em</strong> que estão imersas. São vozes que representam a<br />
realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que se situam, e também, como vimos <strong>em</strong> Bourdieu (2007), são vozes que<br />
representam i<strong>de</strong>ologias provindas <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as sociais bastante antigos, perpetuados por<br />
uma herança histórico-social.<br />
Por meio <strong>de</strong>ssa pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes é que se orquestra o romance, cujo narrador<br />
consi<strong>de</strong>ramos como o ponto chave <strong>de</strong> toda a história. É ele qu<strong>em</strong> confere o caráter das<br />
personagens, e ainda as permeia <strong>de</strong> incertezas e probabilida<strong>de</strong>s. Conheceu os gêmeos<br />
quando iriam <strong>completa</strong>r 29 anos, e a partir <strong>de</strong>sse encontro ele os transforma nas<br />
personagens <strong>de</strong> seu romance. Sobre o encontro, comenta: ... e a <strong>de</strong>mocracia ficou<br />
adiada para quando os gêmeos estivess<strong>em</strong> quase a <strong>completa</strong>r vinte e nove anos que foi<br />
quando direi que os conheci para se tornar<strong>em</strong> nos que <strong>de</strong>ste livro haviam <strong>de</strong> ser.<br />
A respeito disso, Booth (1980) discute sobre o narrador não confiável, que seria<br />
um observador pouco digno <strong>de</strong> confiança, que utiliza certos recursos para pren<strong>de</strong>r o<br />
expectador. O ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>ssa personag<strong>em</strong> não é alterado até a versão final da<br />
história, <strong>em</strong>bora faça vários fatores evoluír<strong>em</strong> gradualmente até se rivalizar<strong>em</strong>, po<strong>de</strong>ndo<br />
até sobrepor-se ao t<strong>em</strong>a original. É nesse prisma que surg<strong>em</strong> os fatores <strong>de</strong> incertezas e<br />
probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro do romance. Nesse caso, o leitor precisa perceber seu jogo, e<br />
assim inferir respostas às questões sugeridas por ele.<br />
Booth (1980) explica que esse tipo <strong>de</strong> narrador t<strong>em</strong> uma tendência irônica ao<br />
narrar. Essa ironia acaba sendo projetada para o leitor, que po<strong>de</strong> concluir que o livro foi<br />
lido erroneamente, e por isso não enten<strong>de</strong>u direito a história, ou simplesmente tira suas<br />
conclusões sobre a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> do narrador. Mas é esse, mesmo, o objetivo pretendido<br />
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