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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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conheci um rapaz e uma rapariga que <strong>de</strong>pois me disseram que eram<br />

gêmeos mas não pareciam e passaram a ser os que me davam jeito<br />

para esse livro. Já o disse: probl<strong>em</strong>as do chamado livre-arbítrio, ou<br />

seja, das aparências do que foi no que po<strong>de</strong>ria ter sido. E se não disse<br />

digo agora para talvez dizer outra coisa: nos romances, como na vida,<br />

a certa altura o autor <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r fingir que t<strong>em</strong> escolha, mesmo<br />

aqueles autores que fing<strong>em</strong> até o fim. Mas mesmo esses, quero crer,<br />

sab<strong>em</strong> perfeitamente que a certa altura as personagens passam a<br />

inventar o seu autor, não menos personag<strong>em</strong> do que elas. A colaborar<br />

ou a recusar se o autor as quer obrigar a ser o que não são, a ir<strong>em</strong><br />

logo fazer queixinhas ao leitor da falta <strong>de</strong> respeito do autor. Não é<br />

que gost<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre do autor, mesmo quando colaboram, algumas<br />

teriam preferido outro <strong>de</strong>stino. Mas isso é ainda outra coisa, outras<br />

histórias <strong>de</strong> livre-arbítrio. Para o aqui e agora <strong>de</strong>ste livro, direi<br />

portanto apenas que foi agora e aqui que as minhas personagens me<br />

confrontaram como se vindas do ter<strong>em</strong> existido antes dos nomes e<br />

<strong>de</strong>stinos <strong>em</strong> que os estou a inventar. Que é também um modo <strong>de</strong> dizer<br />

que eu também lá estive, sou test<strong>em</strong>unha, p. 140.<br />

A segunda marca está no capítulo C<strong>em</strong>itério dos Prazeres, <strong>em</strong> que Hel<strong>de</strong>r sugere<br />

os dois possíveis finais para a fuga <strong>de</strong> Pedro, após ter cometido o estupro <strong>de</strong> Paula:<br />

Depois andou atarantado pelo estúdio, à procura dos óculos. Que<br />

estavam caídos no chão, perto <strong>de</strong> Paula. Apanhou-os, correu para a<br />

porta, saiu s<strong>em</strong> fechar. E acho que aqui <strong>de</strong>vo dar duas escolhas ao<br />

leitor. A versão mais sucinta seria assim: Pedro meteu-se no carro,<br />

arrancou foi à vida, e quando Gabriel veio pouco <strong>de</strong>pois buscar a<br />

Paula para o jantar (tar<strong>de</strong>, como na véspera, para ela ter podido<br />

aproveitar melhor o dia <strong>de</strong> trabalho) encontrou tudo normal, entrou, e<br />

o resto n<strong>em</strong> seria necessário contar. Gênero seco e eficiente, à<br />

maneira dos clássicos, a <strong>de</strong>ixar a tragédia reverberar fora <strong>de</strong> cena. A<br />

versão alternativa arrisca-se a estragar tudo pelo grotesco. Mas é<br />

aquela que conceptualmente me dá mais jeito. Assim: Ao sair Pedro<br />

viu na rua, saltitando absurdamente, a querer espreitar pela janela do<br />

estúdio, numa gran<strong>de</strong> aflição, o vulto que logo reconheceu <strong>de</strong> Ricardo<br />

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Vale. E também contra ele avançou <strong>de</strong> punho erguido, como avançara

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