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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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o romance fosse monológico, pois há a presença do narrador que apresenta as vozes<br />

representantes <strong>de</strong> divergentes i<strong>de</strong>ologias, mas filtradas pela sua voz, superior às <strong>de</strong>mais.<br />

Entretanto, seguindo as palavras <strong>de</strong> Bakhtin (1998, p. 154), o romance serve-se<br />

duplamente <strong>de</strong> todas as formas <strong>de</strong> transmissão da palavra do outro, elaboradas na vida<br />

cotidiana, e nas relações i<strong>de</strong>ológicas não literárias as mais variadas. As i<strong>de</strong>ologias<br />

contidas <strong>em</strong> todas as personagens, divergentes; seus pensamentos e i<strong>de</strong>ais, assim como<br />

seus <strong>de</strong>slocamentos pelo momento histórico e político, no <strong>de</strong>correr do romance,<br />

oportunizam uma ponte entre personag<strong>em</strong>-autor-leitor, o que acaba por pressupor a<br />

existência <strong>de</strong> diversas culturas e contextos, e tudo isso o caracteriza como um romance<br />

dialógico. São as vozes que compõ<strong>em</strong> o jogo <strong>de</strong> vozes, conforme ex<strong>em</strong>plificamos<br />

anteriormente.<br />

Paula representa as revoluções <strong>de</strong> sua época, não somente a social mas,<br />

também, a política. O genuíno talento para artes, como a pintura e a música, fez com<br />

que ela buscasse novos rumos: a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belas Artes, <strong>em</strong> Lisboa, a pós-graduação<br />

<strong>em</strong> Paris, a procura por Gabriel, <strong>em</strong> Londres.<br />

José e Pedro tentam, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, manter Paula sob vigilância. Esta conseguiu,<br />

com dificulda<strong>de</strong>, sua saída <strong>de</strong> Moçambique para a conquista da faculda<strong>de</strong>. Foi Pedro<br />

qu<strong>em</strong> convenceu os pais, apesar das <strong>de</strong>masiadas intenções dominadoras, para Paula ir<br />

estudar junto com ele, <strong>em</strong> Lisboa. Assim, Paula foi conquistando sua liberda<strong>de</strong><br />

paulatinamente, permitindo que o pai e o irmão pensass<strong>em</strong> que s<strong>em</strong>pre estavam no<br />

comando da situação, enquanto ela saía <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>s nutridas por i<strong>de</strong>ologias<br />

contrárias à ditadura, voltadas para as artes, como uma espécie <strong>de</strong> libertação ao regime<br />

dominador da família e do país <strong>em</strong> que vivia.<br />

É interessante verificar também que a libertação sexual da personag<strong>em</strong> foi<br />

expressa, primeiramente, por uma intervenção cirúrgica, pois não queria submeter sua<br />

virginda<strong>de</strong> a um hom<strong>em</strong>. Diz ela: Sabe o que é que fiz quando fiz <strong>de</strong>zoito anos? Para<br />

celebrar o dia dos meus anos? Fui à médica, expliquei-lhe as minhas razões, pedi-lhe<br />

que me abrisse o hímen com o bisturi. Não queria que a minha virginda<strong>de</strong> fosse uma<br />

coisa que pu<strong>de</strong>sse ser perdida (p. 47) 3 .<br />

A procura por Gabriel, <strong>em</strong> Londres, anterior à ida a Paris, soou como uma<br />

vitória a toda opressão, e a partir <strong>de</strong>sse momento da história é que a personag<strong>em</strong><br />

3 MACEDO, Hel<strong>de</strong>r. Pedro e Paula. Lisboa: Record, 1998. Todas as citações que far<strong>em</strong>os <strong>de</strong>sta obra<br />

faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong>ssa edição.<br />

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