Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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como um ato <strong>de</strong> corag<strong>em</strong> por parte <strong>de</strong> José, mas muito cedo este se <strong>de</strong>siludiu, ao julgar<br />
que tinha sido enganado por seus novos amigos políticos, e usado <strong>em</strong> nome <strong>de</strong> um<br />
proletariado inexistente, num país s<strong>em</strong> capitalismo. Havia até chegado a oferecer sua<br />
casa, caso fosse necessário, para encontros clan<strong>de</strong>stinos. Logo foi tomado por seu<br />
t<strong>em</strong>peramento ressentido, como afirma o narrador, porque consi<strong>de</strong>rava que ter<strong>em</strong>-no<br />
usado <strong>de</strong>ssa forma era um insulto à sua inteligência, p. 26. Ana se <strong>de</strong>senten<strong>de</strong> com José<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter sabido <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>sistência do MUD, e ainda se aproveita disso para uma<br />
certa vingança, por ter sido excluída <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>cisões importantes naquele<br />
momento.<br />
Como forma <strong>de</strong> evitar um possível rompimento do noivado, Gabriel tenta<br />
intervir, e é nesse momento que José, começando a <strong>de</strong>ixar aflorar seu t<strong>em</strong>peramento<br />
ressentido, <strong>de</strong>scarrega sua raiva no amigo. Mas tão logo a discussão foi apaziguada, a<br />
única l<strong>em</strong>brança que José tinha do acontecido era <strong>de</strong> que Ana era vulnerável. A “noiva-<br />
menina”, órfã e frágil, <strong>de</strong>monstrava inteligência e sensibilida<strong>de</strong>, e assim, por causa <strong>de</strong><br />
seus i<strong>de</strong>ais políticos é que José se apaixonou <strong>de</strong>finitivamente por ela. Não havia mais a<br />
disputa, que ele mesmo sabia, conforme sugestão do narrador, que secretamente<br />
acontecia entre ele e Gabriel, e que era o motivo para casar-se com ela. O noivado com<br />
Ana foi mantido <strong>de</strong> forma casta; afinal, ele tinha <strong>de</strong> manter o respeito e as normas que a<br />
socieda<strong>de</strong> da época lhe impunham. Na véspera do casamento, tentando driblar os<br />
preceitos moralistas, a moça teve frustrado seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se entregar a ele:<br />
Como Ana, apesar <strong>de</strong> tudo, não resistisse a cultivar uma certa ironia<br />
maliciosa, teria notado o latente subdiscurso edipal do<br />
sentimentalismo <strong>de</strong> José. Mas foi, e porventura disposta a mais do<br />
que beijos. Ele é que, com redobrada ternura e comoção, lhe teve <strong>de</strong><br />
explicar que não quereria abusar <strong>de</strong>la antes do casamento coroar o<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que fosse toda sua. Daí o beijo casto <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida na<br />
véspera <strong>de</strong> o <strong>de</strong>sejo po<strong>de</strong>r ser <strong>de</strong>sabusado. p. 28<br />
Contudo, logo após a primeira noite do casal José <strong>de</strong>monstrava ser bastante<br />
invasivo nas relações sexuais com a esposa. E com o passar do t<strong>em</strong>po, Ana, mesmo<br />
atribuindo certa malda<strong>de</strong> às atitu<strong>de</strong>s do marido, resolveu ce<strong>de</strong>r às “s<strong>em</strong>anais malda<strong>de</strong>s”<br />
com muita paciência. Até no sexo ele já se <strong>de</strong>monstrava ressentido, e com isso vinha à<br />
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