Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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que almejam. E pelo fato <strong>de</strong> o autor apresentar <strong>de</strong> forma muito b<strong>em</strong> articulada essa<br />
busca <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais, não t<strong>em</strong>os como duvidar da evidência da construção pontual acerca das<br />
características peculiares <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas personagens.<br />
Assim, iniciando o <strong>de</strong>snudamento da história, damos início à verificação <strong>de</strong>ssa<br />
construção das personagens, a fim <strong>de</strong> melhor enten<strong>de</strong>rmos a relação <strong>de</strong> dominação<br />
exercida pelas masculinas sobre as f<strong>em</strong>ininas.<br />
José e Pedro parec<strong>em</strong>, <strong>de</strong> certa forma, estar<strong>em</strong> juntos conforme seus i<strong>de</strong>ais e<br />
suas concepções. José foi preterido por Ana, a qual, talvez, como nos sugere o<br />
impreciso narrador, alimentasse a espera <strong>de</strong> um pedido <strong>de</strong> casamento por parte <strong>de</strong><br />
Gabriel, e que nunca aconteceu. Nesse caso, talvez o silêncio pu<strong>de</strong>sse ter ajudado Ana a<br />
tomar a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> se unir a José, logo após ter concluído o curso <strong>de</strong> Direito. E sendo<br />
assim, José teria sido aceito porque Ana não teve a opção que <strong>de</strong>sejou: Gabriel.<br />
Ou talvez não tivesse sido tão difícil se escolha <strong>de</strong> fato tivesse<br />
havido, como Ana quase se permitiu cismar no meio da azáfama que<br />
prece<strong>de</strong>u o casamento, e não só porque o que se não t<strong>em</strong> é o que<br />
melhor se po<strong>de</strong> continuar a <strong>de</strong>sejar. A verda<strong>de</strong> é que s<strong>em</strong>pre achara<br />
que Gabriel tinha um pocochinho mais <strong>de</strong> tudo do que José –<br />
inteligência, graça, elegância e sedução [...] Quero crer <strong>em</strong> suma, que<br />
Ana teria consi<strong>de</strong>rado que no filme certo o noivo é que estaria b<strong>em</strong><br />
para o papel <strong>de</strong> melhor amigo e não o outro. Mas terá acabado por<br />
concluir, dissolvendo a inquietação das dúvidas na placi<strong>de</strong>z das<br />
certezas, que precisamente por isso po<strong>de</strong>ria ser mais ela própria com<br />
José, mais segura, menos vulnerável, po<strong>de</strong>ria ajudá-lo, construiriam<br />
uma vida juntos, seria felizes s<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s sobressaltos <strong>em</strong>ocionais,<br />
era a escolha certa. Além <strong>de</strong> que já sab<strong>em</strong>os que já sabia que não<br />
tinha havido outra, p. 23-24.<br />
As concepções políticas <strong>de</strong> José, outrora as mesmas <strong>de</strong> Gabriel, começam a<br />
mudar após o noivado com Ana. Antes, ambos compartilhavam os i<strong>de</strong>ais libertadores do<br />
MUD, movimento <strong>de</strong> oposição ao regime fascista <strong>em</strong> Portugal, mas a diferença crucial,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, é que José tinha pressa na realização <strong>de</strong>sses i<strong>de</strong>ais, enquanto Gabriel<br />
avaliava os riscos com o passar do t<strong>em</strong>po. A filiação ao MUD foi vista por Gabriel<br />
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