Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

Paula para obter melhores explicações acerca de suas suposições no romance fictício.
Entretanto, após a conversa que tem com ela, que dura alguns encontros, ele mesmo
acaba por não concluir a veracidade de alguns fatos, ou seja, tudo ainda caminha na
trilha da sugestão e da incerteza. É nesse momento que termina o livro de Macedo,
quando Helder obtém de Paula a suposta resposta que gostaria de ouvir: se Filipa era ou
não filha de Gabriel.
Nesse trecho, a conversa se dá com Helder indagando inicialmente Paula
sobre a morte de Gabriel, o que confere ainda alguns artifícios que ele utiliza para a
construção de Paula, mesmo que a versão dada por ela seja um tanto mais contida:
Não chamou médico nenhum nem disse à Paula o que tinha
acontecido. Disse-lhe apenas que tinha uma idéia, que perdoasse a
interrupção, mas era importante: um blanc de noirs! Ia pôr no
congelador para ir arrefecendo enquanto a Paula se preparasse para
uma grande festa só os dois, e quando já estivesse pronta já estaria no
balde de gelo. [...] Já que era blanc de noirs, desencantou o vestido
preto de Londres (recordação sentimental), tomou um chuveiro
rápido, maquilou-se, perfumou-se. Engrossara um tudo nada
(presumo) depois da gravidez, os seios teriam ficado talvez
ligeiramente maiores, possivelmente mais fluidos, o ventre de uma
curvatura mais abaulada. O vestido estava um pouco apertado mas
ainda assim conseguia entrar nele, vestiu-o diretamente sobre a pele,
o estar apertado se alguma coisa acentuando a maravilha do efeito por
sugerir imprevistas transparências onde ele se colava ao fluxo
expansivo dos seios, aguçava os mamilos, desenhava as nádegas e o
ventre depois de definir o estreitamento da cintura, roçava levemente
o púbis antes de cair sobre a bifurcação longas das coxas para acabar
numa bainha flutuante, só as pernas, os braços e a garganta
completamente desnudos. [...] ele atirou-a sobre a cama com um
triunfante Ahh! Num excesso de espasmos de que tudo nos dois
corpos fossem as entradas e saídas. Não foi, é claro, nada disto e nada
assim o que a Paula me teria contado. Teria mencionado apenas o
champagne e o vestido, sem grandes pormenores, apenas que lhe
estava um pouquinho apertado. Mas agora ouvi-a dizer: “Estava
dentro de mim quando morreu. É o que ele deve ter querido. Foi para
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isso que veio para casa. E eu” – Paula hesitou à procura de palavra