Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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sua imortalida<strong>de</strong> e a adormece no alto <strong>de</strong> uma montanha cercada por um fogo mágico<br />
que só po<strong>de</strong>rá ser vencido por um <strong>de</strong>st<strong>em</strong>ido herói. Esse herói será Siegfried, que no<br />
terceiro episódio apaixona-se por Brünhil<strong>de</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> matar o anão Mime, que o criou<br />
com a intenção <strong>de</strong>, quando se tornar um adulto, matar o dragão Fafner, o guardião do<br />
anel. Siegfried t<strong>em</strong> um final trágico, no quarto episódio, pois sofre com encantamentos<br />
que lhe são <strong>de</strong>stinados para trair Brünhil<strong>de</strong> e per<strong>de</strong>r o anel. Ele acaba morrendo numa<br />
caçada e t<strong>em</strong> o corpo queimado na pira, como ocorria na tradição nórdica.<br />
Macedo cita o mito <strong>de</strong> Sieglin<strong>de</strong> e Sigmund quando o narrador faz seu<br />
comentário após citar o que, concordando com Dal Farra (1999), julgamos ser uma das<br />
tentativas ensaiadas por Pedro para estuprar Paula:<br />
Mas <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong> repente, agarrou-se à irmã a pedir <strong>de</strong>sculpa, a<br />
acariciar-lhe o cabelo, a puxá-la para si num gesto trapalhão que lhe<br />
tocou nos seios e, por um momento, pareceu a Paula, a querer beijá-la<br />
nos lábios, respirando fundo, segurando-a pelos quadris contra o seu<br />
corpo, todo ele a tr<strong>em</strong>er e, finalmente, quebrando <strong>em</strong> fundos soluços<br />
<strong>de</strong> choro. E <strong>de</strong> novo pediu <strong>de</strong>sculpa, afastou-se, confuso, tapando os<br />
olhos com as mãos como se apenas para enxugar as lágrimas, E ela:<br />
“Ai Pedro. Como tu estás!... Meu querido irmão...” Aqui estava<br />
portanto Pedro transformado <strong>em</strong> metáfora nacional <strong>de</strong> falso médico,<br />
mesmo se com Wagner no lugar <strong>de</strong> fado menor numa <strong>de</strong> Sigmund s<strong>em</strong><br />
Sieglin<strong>de</strong>, que é como qu<strong>em</strong> diz com a imag<strong>em</strong> a ser mais importante<br />
do que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, p. 81.<br />
O incesto <strong>de</strong> Sieglin<strong>de</strong> e Sigmund é uma simbologia a que Macedo r<strong>em</strong>ete<br />
quando cria o incesto entre Pedro e Paula, mesmo que o mito nórdico, retratado por<br />
Wagner, aconteça aci<strong>de</strong>ntalmente, ou seja, s<strong>em</strong> os primeiros irmãos saber<strong>em</strong> que têm<br />
essa ligação. Mas, mesmo que os gêmeos soubess<strong>em</strong> que eram irmãos, o incesto seria<br />
absolvido, pois, por ser<strong>em</strong> criação <strong>de</strong> Wotan, estariam cumprindo sua vonta<strong>de</strong> ao<br />
conceber<strong>em</strong> Siegfried. E, ainda, o incesto dos s<strong>em</strong>i<strong>de</strong>uses é fruto <strong>de</strong> um belo amor que<br />
nasce entre eles, diferent<strong>em</strong>ente do que acontece entre os irmãos do romance<br />
macediano. A<strong>de</strong>mais, Sigmund luta com Hunding pela posse <strong>de</strong> Sieglin<strong>de</strong>, e Pedro luta<br />
com Paula durante o estupro. Estes últimos não cumpr<strong>em</strong> um plano divino, como os<br />
primeiros, mas a simbologia da luta entre Pedro e Paula é contextualizada por ser<strong>em</strong> os<br />
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