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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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fracasso ou a vitória, levando <strong>em</strong> conta aspectos <strong>de</strong> sua busca, como fonte <strong>de</strong> vida e<br />

i<strong>de</strong>ologia. Sob esse prisma, as metáforas históricas são retratadas por meio do discurso<br />

das personagens, que representam as i<strong>de</strong>ologias dominadoras instauradas na ditadura,<br />

fruto da incorporação <strong>de</strong> todo um processo sócio-histórico <strong>em</strong> Portugal e na África.<br />

Além disso, o exame <strong>de</strong> traços do masculino e do f<strong>em</strong>inino foi necessário para<br />

analisarmos como se <strong>de</strong>u o processo <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong> com o f<strong>em</strong>inino, <strong>em</strong> todo o<br />

romance, ou seja, como a autoria masculina cria o f<strong>em</strong>inino, <strong>de</strong> acordo com as<br />

características outrora verificadas como exclusivas da autoria f<strong>em</strong>inina. Kristeva e<br />

Cixous nos foram importantes na elaboração <strong>de</strong> uma análise <strong>em</strong> que as vozes<br />

masculinas e f<strong>em</strong>ininas, enquanto autoria, não se mostram a partir da questão <strong>de</strong> sexo.<br />

Vimos, então, que a voz f<strong>em</strong>inina, <strong>em</strong> Pedro e Paula (1998), é <strong>de</strong>monstrada na<br />

cumplicida<strong>de</strong> do discurso masculino com o f<strong>em</strong>inino, ou seja, Hel<strong>de</strong>r e Paula,<br />

respectivamente.<br />

Novamente utilizando as concepções <strong>de</strong> Bakhtin, gostaríamos <strong>de</strong> citar uma <strong>de</strong><br />

suas idéias a respeito das vozes, como consta <strong>em</strong> Cristóvão Tezza (apud BRAIT, 2001),<br />

[...] a minha palavra está inexoravelmente contaminada pelo olhar <strong>de</strong><br />

fora, do outro, que lhe dá sentido e acabamento. Em suma, no<br />

universo bakhtiniano nenhuma voz, jamais, fala sozinha. E não fala<br />

sozinha não porque estamos, vamos dizer, mecanicamente<br />

influenciados pelos outros – ele lá, nós aqui, instâncias isoladas e<br />

isoláveis -, mas porque a natureza da linguag<strong>em</strong> é inelutavelmente<br />

dupla. O que, <strong>em</strong> princípio, parece apenas uma classificação teórica<br />

aplicável à literatura ou à lingüística, um instrumento neutro, na<br />

verda<strong>de</strong> é uma visão <strong>de</strong> mundo; a natureza dupla da linguag<strong>em</strong> t<strong>em</strong><br />

conseqüências filosóficas que se <strong>de</strong>sdobram, acho que não será<br />

exagero dizer, até mesmo à fundação <strong>de</strong> uma ética, p. 211-212.<br />

Em compl<strong>em</strong>ento à citação <strong>de</strong> Tezza (apud BRAIT, 2001), no que se refere ao<br />

acabamento que o outro po<strong>de</strong> dar a nós e que nós po<strong>de</strong>mos dar ao outro, salientamos o<br />

caráter plural das vozes, e, <strong>de</strong>ssa forma, a pluralida<strong>de</strong> da literatura. As vozes do eu e do<br />

outro estão interiorizadas <strong>de</strong>ntro do romance, do autor, do leitor. Sendo assim, a relação<br />

que a literatura produz entre os indivíduos é amplamente plural.<br />

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