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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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pelo autor: criar um tipo <strong>de</strong> narrador que ofereça incertezas, e com isso passa a gerar<br />

dúvidas e apontamentos. O livre-arbítrio <strong>de</strong>ve ser oferecido ao leitor. Assim é que se<br />

verifica o caráter plural da literatura, pois é instigada pela liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> opiniões e<br />

arr<strong>em</strong>atada com os fios que tec<strong>em</strong> o real e o imaginário. É <strong>de</strong>ssa forma que acontece a<br />

imersão das vozes sociais, a saber, as que permeiam o leitor, a obra, os personagens, o<br />

autor. Cada voz t<strong>em</strong> sua função <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar dúvidas, anseios e pensamentos que<br />

venham a compl<strong>em</strong>entar a formação <strong>de</strong>sse indivíduo.<br />

Sendo assim, reportado-nos à ironia utilizada pelo narrador, observamos que<br />

essa é uma forma muito sedutora <strong>de</strong> instigar respostas aos mais variados<br />

questionamentos suscitados no romance. A dúvida do incesto perpassa toda a história, a<br />

começar pelo provável envolvimento <strong>de</strong> Ana com Gabriel, o que resulta no ciúme <strong>de</strong><br />

José, assim como toda sua dúvida sobre a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, quanto aos sentimentos da esposa.<br />

A mesma dúvida percorre o caminho <strong>de</strong> Paula, que tenta <strong>de</strong>scobrir se po<strong>de</strong>ria ter sido<br />

gerada no provável envolvimento <strong>de</strong> Gabriel com sua mãe, e além disso o narrador<br />

apresenta a dúvida principal, ou seja, se Filipa seria realmente filha <strong>de</strong> Gabriel ou se<br />

teria sido gerada por Pedro, quando ocorreu o estupro. N<strong>em</strong> o narrador n<strong>em</strong> o diálogo<br />

com Paula po<strong>de</strong>m explicar o que realmente era a verda<strong>de</strong>, apesar da insistência <strong>de</strong>la <strong>em</strong><br />

dizer, primeiramente, que não ocorreu incesto entre ela e seu padrinho Gabriel:<br />

“Achas que até a Filipa nascer a filha era eu? Pareces a minha mãe.<br />

Desculpa <strong>de</strong>cepcionar-te mas não, não foi incesto”. Horrível<br />

provocação. A pôr-me no meu lugar. Se eu fosse parvo, e por um<br />

momento quase fui, ter-me-ia saído com qualquer coisa no gênero <strong>de</strong><br />

“não esse”. Que outra ocasião e noutro contexto a própria Paula<br />

po<strong>de</strong>ria perfeitamente ter dito, como <strong>de</strong>safio profilático aos olhares<br />

<strong>de</strong>sviados <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> soubesse da história, como bizarramente parece<br />

que houve logo, ou que constou, p. 229-230.<br />

Perceb<strong>em</strong>os que o narrador fica na dúvida se Paula realmente contava a verda<strong>de</strong>,<br />

pois <strong>em</strong> trecho mais adiante, no mesmo capítulo, ele se confessa preso na própria teia <strong>de</strong><br />

incerteza:<br />

L<strong>em</strong>bram-se que a pouco eu tinha conseguido evitar a t<strong>em</strong>po a tal<br />

65<br />

gracinha que no contexto seria parva, quando a Paula me gozou a

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