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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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Características que confirmam ser Paula a personag<strong>em</strong> preferida <strong>de</strong> Hel<strong>de</strong>r são<br />

os traços físicos. Em muitas passagens ele <strong>de</strong>screve com riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes a beleza<br />

que ela supostamente possuía:<br />

Uma bela jov<strong>em</strong> e livre criatura nascida assim <strong>de</strong> repente como uma<br />

filha já adulta para lhe preencher os vazios? Apenas partenais, a<br />

notar-lhe a curva das ná<strong>de</strong>gas comprimidas pelos jeans, a<br />

convergência das coxas no triângulo do púbis, a magreza flexível, os<br />

reflexos louros no cabelo solto, o perigoso fascínio daqueles olhos<br />

nunca os mesmos, os lábios amplos a explodir<strong>em</strong> no <strong>de</strong>senho <strong>de</strong><br />

outro modo quase <strong>de</strong>masiadamente perfeito do rosto <strong>de</strong> pele fina,<br />

translucente, s<strong>em</strong> pintura, os seios vivos adivinhados breves mas<br />

talvez mais cheios do que pareciam po<strong>de</strong>r ser sob a camisa a que só<br />

faltava soltar o terceiro botão para <strong>em</strong>ergir<strong>em</strong> nus? p. 39.<br />

O narrador <strong>de</strong>fine as características físicas <strong>de</strong> Paula com toda essa riqueza <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>talhes, como ele mesmo confessa, porque a moça era a sua preferida, a ponto <strong>de</strong> estar<br />

quase que apaixonado por ela, e essa sua preferência po<strong>de</strong>ria interferir na direção <strong>de</strong> sua<br />

história, pois, como ele mesmo diz:<br />

Mas como eu também tenho um probl<strong>em</strong>a que preciso <strong>de</strong> resolver<br />

primeiro ou, pelo menos, parecer fazer isso. O meu é que tomei<br />

partido: Gosto <strong>de</strong> Paula, apetece-me a Paula, não teria tido os<br />

escrúpulos <strong>de</strong> Gabriel. É certo que também não teria tido razões para<br />

ter tido, não sou padrinho, n<strong>em</strong> fui amigo dos pais ou hipotético<br />

amante da mãe, se é que são boas razões para os ter tido, não sou<br />

padrinho n<strong>em</strong> fui amigo dos pais ou hipotético amante da mãe, se é<br />

que são boas razões e não reinci<strong>de</strong>ntes hipocrisias <strong>de</strong> “logo se vê”. O<br />

que neste momento me apetece é passar o resto dos capítulos a<br />

construí-la nos mais íntimos pormenores. Decidir, por ex<strong>em</strong>plo, a<br />

exata proporção entre o nariz – que só po<strong>de</strong>ria ser um nariz a sério,<br />

uma feição, nada daquelas patetices <strong>de</strong> boneca – e os olhos e a boca.<br />

E <strong>de</strong>pois por abaixo até os pés, <strong>de</strong>centes, verda<strong>de</strong>iros (obrigadinho, ó<br />

Cesário), pôr Gabriel a fazer-lhe os melhores po<strong>em</strong>as que tenho<br />

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escrito ultimamente, dar-lhe o <strong>de</strong>stino que o mundo nega e talvez, no

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