Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

das características dominadoras que faziam parte de sua personalidade, a forma de
manipular as situações era, sobretudo, muito peculiar.
Na carta que não é enviada aos pais ele faz uma espécie de confissão a respeito
dos próprios sentimentos em relação aos pais e ao mentiroso em que está se tornando,
ou seja, Pedro tem consciência da pessoa em que se tornou, e de que engana os pais em
nome daquilo que lhe cobraram desde pequeno: um produto de seus caprichos.
Colocando em evidência a perspectiva de Bourdieu (2007), essa percepção que
Pedro tem de si mesmo é fruto da cobrança que a sociedade impôs aos pais, e a ele em
conseqüência, por herança. Entretando, embora haja essa evidência, não deixa que sua
imagem seja mostrada a ninguém, pois sabe que deve aparentar conforme o que
esperavam dele.
É sob esse prisma que, embora vítima de um sistema dominador, patriarcal,
Pedro pode ser visto como uma personagem manipuladora, de requintes cruéis, ao
mesmo tempo em que é colocado como um fraco, um perdedor, pois não consegue
livrar-se dessa máscara, nem tampouco abalar os horizontes de Paula.
A relação com Fernanda e a união entre eles, que mais tarde comprovam a
fraqueza de Pedro, sugerem que a personagem irá seguir um rumo mais correto e menos
perturbador. Foi surpreendente para ele saber que Fernanda, a moça tola, de horizontes
limitados, conforme assim a julgara, havia se tornado delegada renomada, e trazia
consigo a prova de sua astúcia: o filho que não abortou.
Fernanda enganou Pedro, reconstruiu a vida e criou o filho sozinha, ou seja,
manifestando um comportamento avesso às ordens masculinas que ele tanto priorizava.
Logo uniu-se a ela, quando esta demonstrou desprezo acerca da curiosidade sobre, até
então, a incerta paternidade do filho, Elmano, que ela a seguir esclareceu.
Depois do casamento Pedro recupera-se profissionalmente, mas Fernanda o
detém, segundo todas as suas vontades e opiniões. É ela quem arquiteta ficar com a casa
do Azeitão, em que Ana morava, mandado-a para o asilo, e assim acumulando mais
propriedades para si mesma. Em tudo que quis a delegada conseguiu persuadir Pedro,
tendo o filho como sua mola propulsora.
E como Pedro não precisava mais da ajuda de Paula e de Gabriel, depois de
livrar-se dos contratempos quanto à nacionalização da medicina, em Moçambique,
resolve, então, compactuar com os caprichos de Fernanda, o que os transforma numa
boa dupla, como nos confessa o narrador:
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