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PACIENTE INTERNADO NO HOSPITAL, - Teses FIOCRUZ

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Jorginho morrendo, e eu comigo: acho que de hoje não passa. Chegou o pai.<br />

Neste dia, o setor estava calmo, eu estava preparando a parte burocrática. Só<br />

vendo a enfermagem estressadíssima, pega a veia profunda, aparelho, não tem<br />

mais nada a fazer. Pensei: eu estou nervosa, o Seu Jorge me incomoda,<br />

oferecendo balinhas, ele dizia para o filho que o filho ia melhorar, daqui a pouco<br />

vem a sua comidinha vai ficar mais forte. Comenta outra pessoa da enfermagem:<br />

já viu como está esse pai? Não quero ver Seu Jorge. Os médicos cada um pra um<br />

lado. Comenta um médico: já falei! E saiu espalhado. O paciente não está<br />

respirando, está ruim. Os médicos sumiram. Entrei no quarto, Seu Jorge (o pai),<br />

fazendo carinho no filho, dizendo vai ficar forte, para ir para casa. Pensei: o<br />

homem é hipertenso, vai ter um troço. O médico falou: já encerrei com Seu Jorge<br />

hoje. Chamei-o e perguntei: o médico conversou com o Senhor? O pai<br />

respondeu: disse que ele está com pneumonia e que está grave. Falei para o Seu<br />

Jorge que o paciente está agonizando, grave ele já teve outras vezes, ele está<br />

muito grave. O olho dele parecia que dizia: não fala o que está pensando.<br />

Quando sentei com ele no cantinho, o pessoal todo que estava perto arrumou<br />

coisa pra fazer, sei que não ficou ninguém no posto. Falei: hoje ele está<br />

cansadinho, e o pai do paciente me olhou. Prossegui dizendo que ele estava<br />

agonizando e morrendo, e o pai do paciente me olhou de novo e falou: mais<br />

ninguém pode fazer nada? Respondi-lhe que, por Deus, eu não posso responder.<br />

Ninguém pode fazer mais nada. Ele pode morrer a qualquer momento. Estou<br />

preocupada com o senhor. Se o senhor está sabendo da real situação. Médico<br />

falou que está fora de possibilidade, nada que ele pode fazer. Chorando muito,<br />

ele disse: já pedi tanto a Deus para trocar comigo, pra eu ficar no lugar dele. Eu<br />

[enfermeira] não pudi chorar, tinha que ser forte, fiz carinho no cabelo dele, se o<br />

abraçasse, eu ia desabar ali com ele, já estava com vontade de chorar. Falei que<br />

Deus achou que não podia trocar. Não consigo sentir a sua dor. A médica e<br />

professora me viu conversando com ele chegou e perguntou gesticulando se ele<br />

havia morrido; e ela foi embora. Pensei: não chegou junto. Fez seis anos de<br />

medicina, três de residência, mestre, doutor, mas não pôde fazer nada para curar<br />

o seu filho, todo mundo corre, inclusive eu. É difícil para todos. O pai chorou<br />

muito, pelo conforto, pelo paciente. Perguntei-lhe o que posso fazer para aliviar a<br />

dor física? O que ele [pai] queria fazer? Disse-lhe que o liberaria para que<br />

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