PACIENTE INTERNADO NO HOSPITAL, - Teses FIOCRUZ
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possibilidade, nada que ele pode fazer’. Chorando muito, ele disse: ‘já pedi tanto a Deus<br />
para trocar, pra ficar no lugar dele’. Eu [a enfermeira] não pude chorar, tinha que ser<br />
forte, fiz carinho no cabelo dele, se o abraçasse eu ia desabar ali com ele, já estava<br />
com vontade de chorar. Falei que Deus, achou que não podia trocar. Não consigo<br />
sentir a sua dor. A médica, professora, me viu conversando com ele chegou e<br />
perguntou: ‘morreu?’ gesticulando. E foi embora. Não chegou junto. Fez seis anos de<br />
medicina, três de residência, mestre, doutor, mas não pôde fazer nada para curar o seu<br />
filho. Todo mundo corre, inclusive eu. Difícil para todos”.<br />
Edson Sousa (2000:216) assinala que “o trabalho do artista...justamente por não<br />
responder a uma lógica do capital, que, em nosso tempo, propõe equivalências diversas<br />
entre tempo e dinheiro, o artista produz muitas vezes, num longo tempo silencioso, um<br />
trabalho nem sempre visível”.<br />
Esse trabalho árduo, mas não reconhecido, é justamente invisível porque mexe<br />
com a dor: faz leitura sem leitura da história. Trabalha com restos, funerais, com coisas<br />
que já foram embora. Trabalhos invisíveis, não reconhecidos, principalmente pelo<br />
capitalismo, como a arte.<br />
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