PACIENTE INTERNADO NO HOSPITAL, - Teses FIOCRUZ
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privacidade, a solidão no meio de estranhos...” Agustín Aparício (1991:188) registra<br />
que: “somos arrastados a um sítio donde nosso desejo se reduz a nada, nossa<br />
identidade se dissolve, a verdade resplandece, o terror e a piedade nos paralisam”.<br />
Nos relatos de Pacientes percebemos indícios de que eles se colocam como se<br />
tivessem um mal dentro deles, e que por isso pudessem contaminar os outros. Maria<br />
Júlia Kovács (1996:18) pondera que “o medo do sofrimento, da dor e da degeneração<br />
podem fazer com que o indivíduo se sinta morto ou prefira morrer a viver uma quase<br />
vida...” A pessoa solicita que alguém o ajude, dizendo-lhe que não está de todo ruim.<br />
Citamos, entre outros exemplos, a de um Paciente internado, que expressou sentimento<br />
de isolamento e de angústia: “agora sei o que tenho, gastei muito dinheiro, o que tinha e<br />
até o que não tinha para ver se melhorava... Não queria prejudicar a família... Nem<br />
abraçava meu filho [emocionado]... Separei tudo, roupa, prato, talher, copo...” Goffman<br />
(1988:14) diz que “o termo estigma e seus sinônimos ocultam sua dupla perspectiva...<br />
desacreditado e desacreditável”. Joël Dor (1991:101) afirma que “nomear é de início<br />
alguma coisa que tem a ver com a leitura do traço um quer dizer alguma coisa que<br />
designa a diferença absoluta” [J. Lacan. “Seminário de 10 de janeiro 1962 in Encore,<br />
livro XX – Paris, Seuil, 1975].<br />
Um certo Paciente internado comenta: “fiquei (duas semanas sem saber que<br />
poderia ser, só ficava no quarto) dormindo”. Enquanto não há essa nomeação, a vida<br />
do paciente fica suspensa permanece o silêncio no corpo adoecido, ilimitado pelo<br />
imaginário do paciente. A linguagem permite o sujeito se ligar mais a uma certeza e não<br />
a uma questão. Em Agustín Aparício, (1991:173) encontra-se: “o túmulo é senão a<br />
identidade lingüística de alguém que é individualizado, reconhecido em respeito a sua<br />
diferença do conjunto dos integrantes do grupo... Um corpo trabalhado pela cultura”.<br />
Sem a nomeação, é como se também não existissem esses rastros deixados em vida,<br />
como uma não-existência, um indigente.<br />
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