PACIENTE INTERNADO NO HOSPITAL, - Teses FIOCRUZ
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A imagem do corpo é modificada pela doença. E cada sujeito vai lidar com tal<br />
mudança de uma forma bastante singular, desde a completa adesão ao tratamento até<br />
o seu total abandono. Há casos em que o mesmo paciente que, antes de adoecer<br />
mantinha um extremo zelo com seu corpo, quando adoece, e isso modifica seu corpo,<br />
passa a se descuidar inteiramente, abandonando, inclusive, o tratamento. Disfunções<br />
no narcisismo poderiam levar à morte? Francisco Oliveira (1998: 81) diz que “a forma<br />
pela qual o indivíduo se percebe ‘estando doente’ determinará diretamente de que<br />
modo ele relatará a evolução de sua doença para o ‘curador’ ”. Helen Gonçalves<br />
(1998:114) diz: “a percepção da corporalidade da doença é passo importante para a<br />
adesão ao tratamento”.<br />
Junto a essa mudança da imagem corporal, outras perdas também são<br />
remetidas. Uma certa Paciente internada comenta: “eu não ia à praia pra não me<br />
verem assim magra. Ser muito magra ficam reparando”. Nesse mesmo momento outro<br />
paciente solidarizou-se dizendo: “não existe boniteza nem feiúra, tem mais gente mais<br />
gorda, mais feia que você”. Demonstra que todos somos a deformidade do mundo, e<br />
precisamos ser solidários uns com os outros. “O mundo precisa dessa diversidade para<br />
mantermos vivos” (Valadares, 2000). Prossegue a Paciente falando da situação que<br />
viveu o sentimento de abandono e também encontrou apoio: “meu ex-marido me<br />
abandonou porque fiquei doente... Ele já me perguntou o que eu faço pra estar assim<br />
[bem]. Disse pra ele que eu estou me cuidando, como bastante...” Enfatiza o efeito de<br />
um acolhimento pelo outro, para a partir daí se cuidar. Com a resposta do mundo posso<br />
fazer o rejuntamento desse despedaçamento. “E o corpo precisa de repousar nas<br />
coisas do mundo” (Valadares, 2000).<br />
“O corpo é nossa memória mais arcaica, pois em seu todo e em cada uma de<br />
suas partes guarda informações do longo processo evolutivo” (Boff, 1999: 143). Na<br />
pessoa adoecida, o corpo fica como o lugar do silêncio. O silêncio para Pinkus (1988:<br />
30) é uma modalidade todo especial de comunicação não verbal, mas nem por isso<br />
menos significativa, “é o silêncio, não apenas como ausência de palavras ou de gestos,<br />
mas também como amplificação, acentuação e autonomia da mensagem. Pode<br />
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