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magia de espelhos. Não podia proteger o espelho, porque não era uma porta<br />
ou nenhuma janela, ao menos não como entendia eu. Se atravessavam o<br />
espelho significava que tinham melhor magia que eu e não lhes poderia deter.<br />
A porta se abriu e meu coração quase deixou de pulsar, mas só eram duas<br />
mulheres. Duas mulheres normais, humanas; não eram nem um pouco<br />
sensitivas senão não teriam atravessado a porta. Estavam rindo e me lançaram<br />
um par de olhares de estranheza, mas seguiram rindo e conversando até que<br />
entraram em duas cabines contínuas. Viram-me vestida e sem sangrar, porque<br />
era a imagem que projetava. Sempre vem bem comprovar que algo funciona.<br />
Não sabia o que fazer. Então, vi algo no espelho. Havia uma pequena<br />
aranha que pendurava dele. Não, não dele, a não ser dentro dele. A aranha<br />
estava no interior do espelho, arrastando-se pela outra face do vidro. Era como<br />
as aranhas que tinham contribuído para me salvar na casa do Norton. Era o<br />
elfo que tinha me salvado. Ele, ou ela, tinha me salvado uma vez, e<br />
necessitava que o fizesse de novo.<br />
Rasguei uma parte de toalha de papel e escrevi com sangue: «Ajuda-me.»<br />
Esperei a que o sangue se secasse um pouco e então formei uma bola com o<br />
papel. Estava acabando o tempo.<br />
Passei as pontas dos dedos justo por cima da superfície do espelho, pondo<br />
muito cuidado em não tocá-lo. Não queria tomar contato com o espelho até me<br />
formar uma idéia mais concreta do tipo de feitiço que se tratava. Percebia a<br />
vibrante linha de poder ali onde a magia atirava como uma corda. A magia era<br />
uma sorte de greta metafísica. Não sabia se quem exercia a magia tinha<br />
descoberto uma debilidade no espelho e a tinha utilizado, ou se era ele mesmo<br />
quem a causava. Apertei os dedos contra o frio cristal e pensei no calor que<br />
tinha forjado o espelho. Separei os dedos e o vidro se fez pedacinhos. Então<br />
uma linha de luz branca e deslumbrante apareceu com um brilho diamantino.<br />
Atirei a bola de papel por aquele buraco que se abriu e voltei a recompor o<br />
espelho e a colocá-lo em seu lugar como quem molda barro com a mão. A<br />
porta se abriu detrás de mim: já não tinha tempo. Tinha ficado uma mancha no<br />
cristal. Inclinei-me para o espelho e simulando comprovar meu inexistente<br />
carmim, tampei a pequena imperfeição.<br />
A primeira mulher tinha aberto uma pequena bolsa e estava pintando os<br />
lábios.<br />
Eu não olhava para os lábios, a não ser aquela figura de sombras na parte<br />
inferior do espelho. Distingui uns pequenos braços, que abriam minha<br />
mensagem. Uma voz masculina soou como um timbre no ambiente:<br />
-Sim.<br />
-Ouviste isso? -Perguntou a mulher que se observava no espelho.<br />
-O quê? -Perguntei.<br />
-Julie, ouviste?<br />
-Ouvi o quê? -Disse a outra mulher, ainda na cabine. Deu descarga e Julie<br />
se juntou a sua amiga diante do espelho.<br />
Para meu horror, a figura de sombras começou a crescer e estava a ponto<br />
de sair do espelho. Não ficava suficiente encanto para cobri-la. Maldição!<br />
Me ocorreu um modo de apartar às mulheres. Cruzei o banheiro até o<br />
interruptor da luz e a apaguei. Ao mesmo tempo que a escuridão nos envolvia,<br />
senti que trocava a pressão. Sabia que alguém estava arrastando-se através<br />
do espelho como se estivesse apartando uma grosa cortina cristalina. Traguei