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visitado nossa casa. Ele havia dito: «Os trasgos são os que mais lutam em<br />
nossas guerras. São eles, não os sidhe, a coluna vertebral de nossos<br />
exércitos.»<br />
Isto tinha sido verdade na última guerra de trasgos, quando assinamos um<br />
tratado que se manteve. Kurag se encontrava tão a gosto com meu pai que<br />
tinha pedido minha mão como consorte. O resto dos sidhe o consideraram uma<br />
ofensa, e alguns falaram inclusive de declarar a guerra. Os trasgos, por sua<br />
parte, consideraram seu desejo de ter uma esposa com aspecto tão humano<br />
como a máxima expressão da perversão e falavam pelas suas costas de<br />
procurar um novo rei. Não obstante, outros trasgos viam quão benéfico era ter<br />
uma rainha com sangue de sidhe. Então fez falta uma boa dose de diplomacia<br />
para nos afastar da guerra ou de umas bodas com um trasgo. Foi pouco depois<br />
disto que se anunciou meu compromisso com o Griffin.<br />
Kurag se abatia sobre mim. Sua pele era de um tom amarelo similar ao do<br />
Fflur, mas enquanto que a dela era delicada e perfeita como o marfim, a pele<br />
do Kurag estava coberta de verrugas e protuberâncias. Cada imperfeição de<br />
sua pele era uma marca de beleza. Um olho se sobressaía de uma grande<br />
protuberância de seu ombro direito, um olho errante, assim o chamavam os<br />
trasgos, porque estava afastado do rosto. Quando menina, eu gostava daquele<br />
olho, a maneira que tinha de mover-se com independência de seu rosto; eu<br />
gostava dos três olhos que lhe agraciavam seus rasgos largos e marcados. O<br />
olho de seu ombro era da cor das violetas, com umas pestanas negras muito<br />
largas. Abria-se uma boca justo em cima de seu mamilo direito, uma boca de<br />
carnudos lábios vermelhos, com uns pequenos dentes brancos. Uma magra<br />
língua rosa lambia aqueles lábios, e saía ar daquela boca. Se a gente punha<br />
uma pluma diante daquela segunda boca, esta a soprava para cima. Enquanto<br />
meu pai e Kurag falavam, entretinha-me olhando aquele olho, e aquela boca e<br />
os dois braços gêmeos que saíam de forma pouco elegante do flanco direito do<br />
Kurag. Jogávamos cartas, aquele olho, aquela boca, aqueles braços e eu.<br />
Sempre tinha pensado que Kurag era muito inteligente para poder concentrarse<br />
em coisas tão díspares de uma vez.<br />
O que não soube até a adolescência era que havia duas pernas magras<br />
debaixo do cinto do Kurag, do lado direito, completadas com um pênis pequeno<br />
mas completamente funcional. A concepção do cortejo entre os trasgos era<br />
pouco sutil, por não dizer grosseira. A proeza sexual era muito importante entre<br />
eles. Quando me mostrei apática ante a proposição do Kurag, este se baixou<br />
as calças e me mostrou tanto seu próprio membro como o de seu gêmeo<br />
parasita. Eu tinha dezesseis anos e ainda lembrava o horror de me dar conta<br />
de que havia outro ser apanhado no corpo do Kurag. Outro ser com suficiente<br />
inteligência para jogar a cartas com uma menina quando Kurag não prestava<br />
atenção. Havia uma pessoa inteira apanhada ali dentro. Uma pessoa completa<br />
que, se a genética tivesse sido mais generosa, poderia ter tido outro olho de<br />
lavanda.<br />
Nunca voltei a me encontrar a gosto com o Kurag depois disto. Não tinha<br />
sido pela proposição nem pela revelação de sua dignidade extraordinária. Foi a<br />
visão desse segundo pênis, comprido e ereto, independente do Kurag e<br />
desejoso de mim. Quando os rechacei aos dois, aquele único olho cor lavanda<br />
tinha derramado uma solitária lágrima.<br />
Tive pesadelos durante semanas. Os membros adicionais estavam bem,<br />
mas um ser apanhado dentro de outra pessoa... Não tenho palavras para