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ferida eram garras negras como as unhas de um grande pássaro. Os dentes<br />
que mostravam ao falar com esse som sibilante estavam concebidos para<br />
rasgar carne. Não podia as vencer em uma batalha corpo a corpo. Precisava<br />
as manter a distância, mas Sholto estava a ponto de apresentar-se e eu tinha<br />
que desaparecer antes de que isso acontecesse. Se chegasse, estava perdida.<br />
E não esta indo muito bem. Elas não podiam me fazer mal, eu estava cercada.<br />
Se saísse, as aves noturnas me atacariam em grupo, e logo as arpías ou o<br />
homem sorridente poderiam me agarrar. Estaria desarmada, ou algo pior, antes<br />
de que Sholto aparecesse.<br />
Não tinha magia ofensiva. Uma arma não podia matar a nenhuma delas, só<br />
as podia ferir e deter. Necessitava de uma idéia melhor, mas não me ocorria<br />
nenhuma. Tentei falar. Em caso de dúvida, fale. Nunca se sabe o que o inimigo<br />
pode deixar escapar em uma conversa.<br />
-Nerys a Cinza, Segna a Dourada e Agnes a Negra, suponho.<br />
-Quem é você? Stanley? -Disse Nerys.<br />
Sorri.<br />
-E ainda dizem que vocês não tem senso de humor.<br />
-Quem diz? -Perguntou.<br />
-Os sidhe – eu disse.<br />
-Você é uma sidhe - disse Agnes a Negra.<br />
-Acha que estaria aqui me escondendo de minha rainha se fosse uma sidhe<br />
completa?<br />
-O fato de que você e sua tia sejam inimigas te converte em uma louca<br />
suicida, mas não te faz nem um pouco menos sidhe. -Agnes estava de pé, bem<br />
rígida.<br />
-Não, mas o sangue de brownie de minha mãe sim. Acredito que a rainha<br />
perdoaria a mancha humana, mas não pode esquecer o resto.<br />
-É mortal -disse Segna-. Esse é o pecado imperdoável para uma sidhe.<br />
As minhas mãos começavam a intumescer. Os braços começariam a<br />
tremer. Tinha que disparar ou baixar a arma. Embora sustentasse a arma com<br />
as duas mãos, não podia manter a posição eternamente.<br />
-Há outros pecados que minha tia ache igualmente imperdoáveis –eu disse.<br />
-Como ter uma rede de tentáculos em meio de toda esta carne perfeita de<br />
sidhe - disse uma voz masculina.<br />
Movi a arma para a voz, sem tirar a vista das três bruxas. Logo teria tantos<br />
alvos em tantas direções distintas que seria impossível disparar em todos de<br />
uma vez. O mínimo movimento e a descarga de adrenalina tinham contribuído<br />
a mitigar a fadiga muscular. De repente me convenci de que podia manter a<br />
posição de disparo eternamente.<br />
Sholto estava de pé na calçada. Acredito que tentava sem êxito parecer<br />
inofensivo.<br />
-A rainha me disse isso em uma ocasião, que era uma lástima ter uma rede<br />
de tentáculos em meio de um dos corpos de sidhe mais perfeitos que tinha<br />
visto.<br />
-Muito bem. Minha tia é uma vadia. Todos sabemos. O que quer, Sholto?<br />
-Lhe chame pelo seu título -disse Agnes, enquanto sua voz cultivada<br />
mostrava um pouco de desgosto.<br />
Nunca prejudica ser educado, de modo que fiz o que ela pedia.<br />
-O que quer, Sholto, Senhor Daquilo que Acontece no Meio?<br />
-Ele é o rei Sholto. - Segna me cuspiu estas palavras, quase literalmente.