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-Alguns cães da corte podem fazer isso, mas nunca ouvi dizer que um sidhe<br />
tivesse esta habilidade.<br />
-Como disse Sholto, não ser sidhe puro tem suas vantagens. Ele pode fazer<br />
crescer uma parte amputada de seu corpo, e eu posso lamber uma ferida até<br />
que se cure.<br />
Não tentei ocultar minha incredulidade.<br />
-Se fosse qualquer outro guarda, te acusaria de procurar uma desculpa para<br />
pôr sua boca em cima de mim.<br />
Sorriu, e esta vez o sorriso era mais brilhante, mais cheio de humor.<br />
-Se meus companheiros corvos tentassem te enganar, não seria seu braço<br />
que tocariam.<br />
Não pude conter a risada.<br />
-Bem pensado. De acordo, então, faça que deixe de sangrar. Não quero ir a<br />
emergência esta noite. -Tirei o braço de seu ombro-. Pode ir.<br />
Inclinou-se para meu braço, devagar, falando enquanto se movia.<br />
-Tentarei que lhe incomode o menos possível. -Senti sua respiração cálida<br />
junto a minha pele e a seguir sua língua me lambeu ligeiramente a ferida.<br />
Saltei.<br />
Olhou-me sem afastar o rosto de meu braço.<br />
-Te machucou, princesa?<br />
Neguei com a cabeça, porque não confiava em minha voz.<br />
Lambeu duas vezes mais ao longo da ferida, muito devagar, e a seguir sua<br />
língua se meteu na ferida. A dor foi aguda, imediata, e tive que sufocar um<br />
grito.<br />
Esta vez não se retirou, mas sim apertou mais a boca contra minha pele.<br />
Seus olhos se fecharam enquanto sua língua pinçava na ferida, provocando<br />
sensações de dor aguda.<br />
Dor como pequenas descargas elétricas. Com cada pontada sentia que algo<br />
se esticava em meu corpo, mais abaixo. Era como se os nervos que tocava<br />
estivessem conectados a outras coisas que não tinham nada que ver com meu<br />
braço.<br />
Começou a lamber a ferida com movimentos largos e lentos. Continuava<br />
com os olhos fechados, e eu estava o bastante perto para ver suas negras<br />
pestanas. Já logo não sentia dor, só a sensação de sua língua deslizando-se<br />
por meu corpo. Sentir sua boca em minha pele me acelerou o pulso e me<br />
formou um nó na garganta. Seus brincos capturavam a luz e a refletiam com<br />
um brilho argentino, como se os lóbulos de suas orelhas estivessem lavrados<br />
em prata. A ferida começou a concentrar calor. Era semelhante a ser curada<br />
por imposição de mãos. O calor crescente e a energia que vibrava contra<br />
minha pele, dentro de minha pele, eram sensações quase idênticas.<br />
Doyle se separou de meu braço, com os olhos semi cerrados. Tinha o<br />
aspecto de quem acordava de um sonho, ou como se lhe tivessem<br />
interrompido pensamentos mais íntimos. Soltou-me o braço, lentamente, quase<br />
a contra gosto.<br />
Falou muito devagar, com voz rouca.<br />
-Fazia muito tempo que não fazia isso. Tinha esquecido como se sente.<br />
Dobrei o braço para ver a ferida, e já não havia ferida. Toquei a pele com a<br />
ponta dos dedos. Estava limpa, intacta, ainda úmida pela boca do Doyle, ainda<br />
quente ao tato, como se uma parte da magia se aferrasse à pele.<br />
-É perfeito, nem sequer ficou cicatriz.