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-Sim, são um bonito par, tia Andais – eu disse.<br />
Assentiu, como se a tivesse agradado.<br />
-Encarrego-te, Doyle, levar ao Frost a sua habitação e comprovar que use a<br />
roupa que tenho feito confeccionar para ele. Lhe leve ao banquete com essa<br />
roupa ou entrega-o ao Ezekial para que seja torturado.<br />
-Como deseja minha senhora, assim se fará -disse Doyle. Levantou-se e<br />
pegou o braço do Frost para pô-lo em pé.<br />
Os dois se encaminharam para a porta, com as cabeças inclinadas. Doyle<br />
me dirigiu um olhar enquanto se foram. Possivelmente se desculpava por me<br />
deixar a sós com ela, ou me advertia de algo. Não pude decifrá-lo. Mas se foi<br />
da habitação com minha pistola ainda na cartucheira. Eu teria gostado de ter a<br />
arma.<br />
Rhys se deslocou para colocar-se ao lado da porta, como um bom guarda.<br />
Andais observou seu movimento igual aos gatos quando olham aos pássaros,<br />
mas o que disse foi bastante suave.<br />
-Espera fora, Rhys. Quero falar em particular com minha sobrinha.<br />
Seu rosto denotou surpresa. Olhou-me, como se estivesse solicitando<br />
minha permissão.<br />
-Obedece, ou quer ir com os outros a ver o Ezekial?<br />
Rhys negou com a cabeça.<br />
-Não, senhora, farei o que me ordena.<br />
-Sai -disse.<br />
Ao sair me olhou de esguelha uma vez mais, mas fechou a porta detrás<br />
dele. A habitação se tornou de repente muito, muito silenciosa. O som do<br />
vestido de minha tia ao mover-se pelo corredor ressonava em meio da calma,<br />
como as escamas secas de uma serpente enorme. Caminhou até o extremo da<br />
habitação, onde uns degraus conduziam a uma pesada cortina negra. Abriu a<br />
cortina para revelar uma mesa de madeira com uma cadeira esculpida a um<br />
lado e um tamborete sem respaldo no outro. Havia um tabuleiro de xadrez<br />
sobre a mesa redonda, cujas pesadas peças estavam gastas pelo roce de<br />
mãos que as tinham deslizado sobre o mármore ao longo de séculos. O<br />
tabuleiro de mármore tinha literalmente estrias, como caminhos criados por<br />
pisadas repetidas.<br />
Havia uma caixa de armas apoiada contra a parede arredondada do grande<br />
quarto, cheia de rifles e de pistolas. Duas molas de suspensão penduravam da<br />
parede em cima da caixa de madeira. Sabia que as flechas estavam debaixo,<br />
depois das portas fechadas da parte inferior, junto com as munições. Havia um<br />
luzeiro do alvorada, com uma bola cravejada ao extremo de uma cadeia e uma<br />
maça, montado a um lado da caixa de armas. Estavam cruzadas como as<br />
espadas do outro lado da caixa. Debaixo da maça e o luzeiro do alvorada havia<br />
um enorme escudo com a marca de Andais na superfície: um corvo, um mocho<br />
e rosas vermelhas. O escudo do Eamon estava debaixo das espadas cruzadas.<br />
Na parede tampouco faltavam correias para pulsos e tornozelos. Em cima<br />
destas, um látego enroscado como uma serpente pendurava de um gancho.<br />
Um látego mais pequeno pendurava por cima das correias da direita. Teria dito<br />
que era um açoite de nove nós, mas tinha muitos mais, cada um rematado por<br />
uma pequena bola de ferro e um gancho de aço.<br />
-Vejo que seus hobbies não trocaram – eu disse. Tentei ser neutra, mas a<br />
voz me traiu. Às vezes, quando ela abria a cortina, a gente jogava xadrez.<br />
Outras vezes não.