Meredith Gentry 1 - CloudMe

Ringo me olhou por cima do assento do condutor. Quase não cabia nele,
com toda aquela musculatura, aqueles largos braços e aquele peito imenso
aprisionados em um assento construído para humanos. Ele sorriu mostrando
uma boca de dentes afiados como os de um lobo. A cara era um pouco
alargada para deixar lugar para os dentes, o qual desproporcionava com o
resto de seu rosto, mais humano. Os dentes apareciam por cima de sua pele
marrom. Ringo tinha formado parte de uma gangue de bairro. Um dia um grupo
de sidhe da corte da Luz se perderam no mais profundo e escuro de Los
Angeles. Encontraram-se com uns gangueiros: a máxima expressão da
interação cultural. Os sidhe levaram a pior parte na batalha. É difícil saber o
que aconteceu. Talvez fossem muito arrogantes para lutar contra um grupo de
gangueiros. Possivelmente os adolescentes eram muito piores do que se
imaginaram os visitantes reais. O caso é que estavam perdendo a briga até
que um dos membros da turma teve uma idéia brilhante. Trocou de bando com
a condição de que se cumprisse seu desejo.
Os sidhe estiveram de acordo, e Ringo matou a seus companheiros de
turma. Seu desejo era ser um elfo. Os sidhe lhe tinham dado sua palavra de
honra de que lhe concederiam este desejo e não podiam voltar atrás. Para
converter a um humano pleno em duende parcial, terá que derramar nele um
pouco de magia, puro poder, e é a vontade ou o desejo humano o que
determina a forma dessa magia. Ringo tinha uns quatorze anos quando isto
aconteceu. Possivelmente pretendia mostrar-se feroz, aterrador, ser o maior
filho de puta do bairro, e assim a magia lhe tinha concedido seu desejo.
Segundo os padrões humanos, era um monstro. Segundo os dos sidhe, o
mesmo. Segundo as medidas de duende, era simplesmente mais um da turma.
Não sei por que motivo Ringo deixou as gangues. Possivelmente lhe
deslumbraram. Possivelmente alcançou a sabedoria. Quando lhe conheci, já
levava muitos anos sendo um cidadão exemplar. Estava casado com a mesma
mulher e tinha três filhos. Estava especializado no trabalho de guarda-costas e
trabalhava para muitas celebridades que só procuravam a companhia de uma
imagem exótica e musculosa. Um trabalho fácil e sem grande perigo, e com a
oportunidade de manter contato com as estrelas. Não estava mal para o filho
de uma yonki de quinze anos e de pai desconhecido. Ringo guarda no
escritório uma foto de sua mãe à idade de treze anos. Tem olhos brilhantes e
aparece bonita e bem penteada, com toda a vida por diante. No ano seguinte,
já se drogava e morreu de overdose aos dezessete. Não tem fotos de sua mãe
maior de treze anos, nem em seu escritório nem em sua casa. É como se, para
o Ringo, tudo fosse irreal depois daquilo, como se não fosse sua mãe.
Sua filha maior, Amira, tem um aspecto misterioso como nessa foto. Não
acredito que tivesse sobrevivido se a tivesse descoberto drogando-se. Ringo
diz que drogar-se é pior que a morte, e estou convencida de que ele acredita
nisso.
Nenhum dos dois se impressionou com a arma quando a coloquei na
cintura. Possivelmente estavam com o Jeremy quando encontrou a arma e os
papéis.
Jeremy se sentou no assento do acompanhante.
-Vamos para o aeroporto.
Foi tudo o que disse. Ringo arrancou o carro e fomos.