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Meredith Gentry 1 - CloudMe

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A arte de sugar uma ferida consiste em fazer brotar sangue do mais<br />

profundo. Terá que começar devagar, trabalhar em seu interior. Chupei a pele<br />

no lado menos profundo da ferida com compridos e firmes lambidas. Um dos<br />

truques para beber muito sangue é tragar freqüentemente. O outro truque<br />

consiste em concentrar-se em cada tarefa por separado. Concentrei-me em<br />

quão áspera era a pele do Kurag, na protuberância que parecia formar um nó<br />

ao final da ferida. Concentrei-me nesse nó, fazendo-o rodar por minha boca<br />

durante um segundo para reunir a coragem precisa para lamber a ferida. Eu<br />

gosto de um pouco de sangue, um pouco de dor, mas essa ferida era profunda<br />

e fresca, em certo modo excessiva.<br />

Voltei a lamber duas vezes o lado pouco profundo da ferida e a seguir,<br />

detive minha boca ali. O sangue emanava muito depressa e me provocava<br />

convulsões ao tragar. Respirava pelo nariz, mas mesmo assim havia muito<br />

líquido doce e metálico. Muito para respirar, muito para tragar. Lutei por conter<br />

uma arcada e tentei me concentrar em algo distinto. Os bordos da ferida<br />

estavam muito limpos e suaves: boa prova de que a faca estava bem afiada.<br />

Teria me ajudado poder tocar ao Kurag com as mãos, ter alguma outra<br />

sensação. Era consciente de que minhas mãos se esticavam no ar como se<br />

tentassem encontrar algo no que agarrar-se. Mas não o podia evitar. Tinha que<br />

fazer algo.<br />

Uma mão me roçou as pontas dos dedos, e a agarrei, apertei-a. Minha outra<br />

mão se deslocou no ar até que também a agarraram. Pensei que era Galen,<br />

pela delicada perfeição das pontas de seus dedos, mas a palma e os dedos<br />

estavam cheios de calos causados pela espada e o escudo. Eram muito<br />

rugosas para tratar-se do Galen. Eram mãos que se estiveram exercitando nas<br />

armas muito mais tempo do que tinha vivido Galen. Estas mãos agarravam as<br />

minhas, respondendo a minha pressão, as apertando enquanto eu aferrava a<br />

essa sensação.<br />

Tinha a boca contra o braço do Kurag, mas concentrava a atenção em<br />

minhas mãos e na força que me retinha. Podia sentir como uns braços<br />

atiravam de mim e me obrigavam a colocar as mãos por detrás das costas e<br />

logo a subir: uma dor suave que me distraía, exatamente o que necessitava.<br />

Separei-me da ferida, ofeguei e um instante depois pude por fim respirar<br />

corretamente. Tive uma ânsia, mas as mãos seguraram meus braços para<br />

cima e pude me conter. Passou o momento crítico e me senti bem. Não ia pôr<br />

me em ridículo vomitando todo aquele bom sangue.<br />

As mãos se afrouxaram e a dor de meus braços se aliviou; as mãos já só<br />

eram algo ao que agarrar-se.<br />

-Ummm... -Disse Kurag- isto foi bom, Merry. É, certamente, a filha de seu<br />

pai.<br />

-Tomo como um elogio, vindo de ti, Kurag.<br />

Separei-me dele e tropecei. As mãos me levantaram e permitiram que me<br />

apoiasse no peito de seu proprietário. Sabia quem era antes de me voltar para<br />

olhar. Doyle me observava enquanto eu me apoiava em seu corpo, com<br />

minhas mãos ainda entre as suas. Articulei uma palavra:<br />

-Obrigado.<br />

Assentiu levemente com a cabeça. Não fez nenhum movimento para me<br />

soltar, e eu não fiz nenhum movimento para me liberar da pressão de seu<br />

corpo. Temia cair se me separava dele e lhe soltava as mãos. Mas foi também<br />

nesse momento quando me senti segura. Sabia que se caía, ele me agarraria.

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