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-Disse que tinha que vê-lo sem a capa. Você gosta?<br />
Assenti, sem dizer nada. OH, sim, eu gostava.<br />
Doyle me olhou, e a única coisa que via eram seus olhos. O resto de seu<br />
rosto se perdia no vento, as plumas e a escuridão. Sacudi a cabeça e deixei de<br />
olhar.<br />
-Já tentaste duas vezes me enfeitiçar com seus olhos, Doyle. O que está<br />
acontecendo?<br />
-A rainha queria que te testasse com meus olhos. Sempre disse que é o<br />
melhor que eu tenho.<br />
Passeei meu olhar pelas fortes curva de seu corpo. O vento fazia rajadas, e<br />
Doyle ficou apanhado de repente em uma nuvem de seu próprio cabelo, negro<br />
e delicado, com a carne quase nua, perdido negro sobre negro.<br />
Procurei de novo seu olhar.<br />
-Se minha tia considerar que seus olhos são o melhor que tem, então... -<br />
Sacudi a cabeça e deixei escapar um suspiro. -Digamos simplesmente que ela<br />
e eu temos gostos distintos.<br />
Riu. Doyle riu. Tinha-o ouvido rir em Los Angeles, mas não assim. Essa era<br />
uma risada profunda, sincera, ensurdecedora: uma boa risada. Ecoou nas<br />
colinas e encheu a noite ventosa com um som alegre. Assim, por que me<br />
pulsava o coração na garganta até me deixar quase sem respiração? Senti um<br />
comichão nas pontas dos dedos: Doyle não tinha rido nunca assim.<br />
O vento se acalmou, a risada se deteve, mas seu brilho permaneceu em<br />
seu rosto, lhe fazendo sorrir o suficiente para mostrar uns dentes brancos e<br />
perfeitos.<br />
Doyle jogou a capa sobre os ombros. Se havia sentido frio sem ela na noite<br />
de outubro, não o tinha mostrado em nenhum momento. Inclinou a capa e me<br />
ofereceu seu braço nu. Estava paquerando comigo.<br />
Franzi o sobrecenho.<br />
-Pensei que havíamos ficado de fingir que ontem à noite não passou nada.<br />
-Não mencionei nada.- disse, com uma voz anódina.<br />
-Você está flertando – eu disse<br />
-Se fosse Galen que estivesse de pé aqui, você não hesitaria. – ele disse.<br />
O humor estava chateando em um brilho tênue que lhe enchia os olhos.<br />
Ainda estava se divertindo comigo, e eu não sabia por quê.<br />
-Galen e eu estivemos azucrinando um com o outro desde que eu alcancei<br />
a puberdade. Nunca te vi azucrinar com ninguém, Doyle, até a noite passada.<br />
-A noite ainda nos proporciona mais surpresas, <strong>Meredith</strong>. Maravilhas muito<br />
mais surpreendentes que eu mesmo com o cabelo ao ar e sem camisa em uma<br />
fria noite de outubro.<br />
Nesta ocasião havia em sua voz aquela nota características dos mais<br />
velhos, um tom condescendente que devia dizer que eu era uma criança e que,<br />
independentemente de quão mais velha eu chegasse a me tornar, sempre<br />
seria uma criança comparada com eles, uma criança tola.<br />
Doyle tinha sido condescendente comigo anteriormente. Era quase<br />
reconfortante.<br />
-O que poderia haver mais extraordinário que a Escuridão da Rainha<br />
paquerando com outra mulher?<br />
Negou com a cabeça, me oferecendo ainda sua mão.<br />
-Acredito que a rainha tem notícias que farão que tudo o que eu possa dizer<br />
pareça insosso.