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Ouvi que algo atravessava a janela e caía pesadamente. Doyle me soltou<br />
tão de repente que voltei a cair ao chão. Então, com um só movimento fluido,<br />
como um passo de baile, agarrou a espada, voltou-se e cruzou o quarto para<br />
cravar a arma em um tentáculo negro, tão grande como ele, que tinha<br />
penetrado pelo buraco da janela. Ouviu-se um grito do outro lado do vidro<br />
quebrado. Doyle extraiu a espada do tentáculo e este começou a retroceder.<br />
Ele levantou a espada por cima da cabeça e a fez cair com toda sua força. O<br />
tentáculo cerceado derramou um banho de sangue negro em meio de uma luz<br />
verde amarelada.<br />
O resto do tentáculo se retirou pela janela com um som similar ao gemido<br />
do vento. Doyle se voltou para mim.<br />
-Isto lhes reterá, mas não muito.<br />
Aproximou-se de mim, com a espada ensangüentada na mão. Tudo tinha<br />
acontecido em questão de segundos. Inclusive as tinha arrumado para que<br />
permanecer em um lado, com o qual o sangue não lhe sujaria, como se tivesse<br />
sabido onde colocar-se ou para onde ia saltar o sangue.<br />
Ao lhe ver aproximar-se de mim, não pude permanecer no chão. Ele tinha<br />
vindo para me manter com vida, mas à medida que se aproximava, todos meus<br />
instintos ficaram de acordo para me fazer gritar. Doyle era algo elementar<br />
esculpido de escuridão e de penumbra, armado com uma espada assassina e<br />
avançava para mim como a própria encarnação da morte. Nesse momento,<br />
entendi por que os humanos nos adoravam.<br />
Agarrei-me no lavabo para me pôr em pé, porque não podia enfrentá-lo de<br />
joelhos. Devia me manter de pé diante daquela graça da Escuridão, ou me<br />
inclinar ante ele como um humano em posição de adoração. Me pôr em pé fez<br />
com que a habitação girasse. Estava tão enjoada que temia cair, mas me<br />
mantive em pé me agarrando no lavabo com todas as minhas forças. Quando<br />
se esclareceu a minha visão, continuava de pé e Doyle estava o bastante perto<br />
para que pudesse ver chamas verdes nos espelhos escuros de seus olhos.<br />
De repente me apertou contra seu corpo e senti em minha pele o sanguefrio<br />
de sua camisa. Notava a força de suas mãos em minhas costas, me<br />
apertando contra seu corpo.<br />
-A rainha pôs em mim sua marca para que eu lhe entregue isso. Assim que<br />
a tenha, todos saberão que te fazer mal será arriscar-se a perder a misericórdia<br />
da rainha.<br />
-O beijo – eu disse.<br />
Ele assentiu.<br />
-Disse que tinha que dar isso, igual ela me deu. Me perdoe.<br />
Beijou-me antes de que eu pudesse perguntar por que motivo pedia perdão.<br />
Beijou-me como se tentasse escalar dentro de mim através de minha boca. Eu<br />
não estava preparada nem lhe tinha dado permissão. Tentei me apartar de seu<br />
braço, mas se aferrou a minhas costas, pressionando a jaqueta de pele contra<br />
meu corpo. Sua outra mão segurava meu rosto e os dedos se cravavam em<br />
meu queixo. Não podia impedir que me beijasse, não podia me separar dele.<br />
Lutar não estava me levando a nenhum lugar, de maneira que me detive e<br />
abri a boca, lhe devolvendo o beijo. Senti que ele se relaxava, como se<br />
pensasse que eu estava lhe dando permissão. Agarrei sua camiseta negra e<br />
comecei a tirá-la de suas calças. Estava tão úmida de sangue que se pegava à<br />
pele, mas a tirei de tudo. Pus minhas mãos sobre a superfície de seu<br />
estômago, para cima, para a suavidade de seu peito.